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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 256 - 263, jan - fev. 2015

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Quais os desafios para a resistência democrática na seara

da disputa legislativa criminal?

Diante deste quadro, é preciso tentar responder ao questionamen-

to para sermos capazes (nós que acreditamos e defendemos a democra-

cia) de realizar esse enfrentamento.

É preciso quebrar certo comodismo que existe na academia – lugar

de reflexão por excelência – para que a crítica saia das teses e dissertações

e disputem a política. Para tanto, é preciso diminuir o preconceito que

existe com relação ao parlamento. Poder que, diga-se de passagem, é o

que mais possui a representatividade popular entre os três estabelecidos.

Entretanto, há outro desafio que é o da linguagem. Geralmente,

nós acadêmicos, falamos para nós mesmos, com termos e conceitos que

só quem é da área domina ou entende. Na política, existem outros có-

digos discursivos. De nada adianta falar para um parlamentar que não é

da área do direito, que tal projeto de lei possui um viés etiológico. No

entanto, mostrar ao parlamentar que se caso aprovado o projeto terá um

impacto financeiro, com a necessidade de aumento de vagas no sistema

penitenciário, estando sujeito o país a visitas e denúncias na ONU, pode

surtir mais efeito de convencimento.

Outro aspecto importante é quanto ao tempo de atuação. O pro-

cesso legislativo possui uma dinâmica alheia a prazos estabelecidos, o que

é uma dificuldade para quem é da área do direito, tão acostumados que

somos a prazos e procedimentos.

O parlamento, já dizia Ulisses Guimarães, é como nuvem que toda

hora muda de forma. Um projeto que está parado há anos pode ser apro-

vado da noite para o dia, bastando a tanto que se torne prioridade.

Não raro acontece que os estudiosos só se dão conta de uma de-

terminada aprovação de lei quando é sancionada. No entanto, de nada

adianta criticar neste momento. Geralmente o projeto tramitou durante

anos no Congresso, passando incólume em comissões, sem nenhuma crí-

tica qualificada. É preciso intervir antes. Mas, para que isso ocorra se faz

necessário um acompanhamento mais atento do processo legislativo.

O tempo do parlamento é muito fluído e dinâmico, enquanto

que o tempo da academia é muito mais cadenciado. Estar atento, por-

tanto, às essas peculiaridades é fundamental para atuação durante a

ocorrência do processo.