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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 256 - 263, jan - fev. 2015

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Uma vez posto em andamento um projeto de Lei, incontáveis nego-

ciações, debates, arranjos, acertos e desacertos ocorrerão até a sua apro-

vação. Modificações no texto, incorporações de outros assuntos, mais

pena, menos pena, etc. O problema é que isto se dá muitas vezes sem a

participação dos atores jurídicos e da sociedade organizada.

Dinâmico e muitas vezes incompreensível para quem está de fora, o

processo legislativo se torna, deste modo, um importante espaço de dis-

puta de poder e, em material criminal, disputa do poder punitivo. O fato

de o Congresso Nacional distar mil, dois mil quilômetros das outras capitais

e dos grandes centros urbanos, contribui para que este isolamento entre

produção de leis e participação neste processo se acentue e aprofunde.

Há, portanto, um distanciamento não só do ponto de vista do co-

nhecimento do processo como também físico, o que acaba por ser preju-

dicial e gerar problemas de compreensão. Explico.

A academia

Na academia se percebe certa dificuldade e, até mesmo repulsa

quando se analisa o Parlamento e a produção de leis penais, quiçá um

pouco influenciados pelos meios de comunicação de massa que atuam na

deslegitimação e enfraquecimento (dia pós dia), da atuação parlamentar,

com a presunção de que todos que a façam sejam corruptos ou não sa-

bem nada do que ali fazem.

Esse preconceito estimulado termina por afastar aqueles que refle-

tem criticamente sobre a ciência penal, daqueles que fazem as leis. Esse

distanciamento é fatal para sociedade, pois reforça o achismo em matéria

punitiva e, também, o ato de punir como solução para problemas comple-

xos da sociedade.

Os dados empíricos, os possíveis impactos que determinada lei

pode causar no sistema de justiça criminal não chegam a quem toma de-

cisões em matéria legislativa, porque também, não atingem os grandes

meios de comunicação (base da racionalidade legislativa).

Cria-se, então, um círculo vicioso que pode ser resumido desta forma:

A academia produz reflexões e críticas sobre o sistema penal. Essas

críticas e constatações da realidade não chegam aos parlamentares. Quer

porque não atingem ou não interessam aos grandes meios de comunica-

ção, quer pelo distanciamento entre academia e parlamento.