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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 256 - 263, jan - fev. 2015

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Infelizmente, o resultado deste círculo são leis elaboradas sem o

mínimo de reflexão técnica e científica séria. Poderíamos desfilar um ro-

sário de exemplos dessas leis.

Nos últimos anos, o Congresso Nacional tem chamado para si a inicia-

tiva de se reformar códigos através de Comissões de Juristas

1

. No entanto, o

que se vê são indicações de composição baseadas em critérios de represen-

tatividade, Ministérios Públicos, Magistratura, Defensoria sem, contudo, ter

como norte principal o notório saber jurídico que a função exige.

O reflexo do distanciamento entre academia e parlamento se dá

também nessas iniciativas de reforma de códigos, o que é preocupante.

A sociedade civil organizada

Um pouco mais próxima da atuação do parlamento, algumas en-

tidades de direitos humanos e com sensibilidade para questões penais

têm buscado realizar uma maior participação e interferência no processo

legislativo. No entanto, ainda é muito pouco quando se olha a defesa de

interesses dos grandes grupos econômicos que dispõem de escritórios

de lobby para realizar o acompanhamento passo a passo dos projetos de

seus interesses.

Essas entidades compreenderam que sem uma atuação de conven-

cimento e sensibilização nos poderes não se avançará em termos de um

sistema de justiça criminal mais digno e cidadão.

O problema é que este acompanhamento é caro, sendo que a maior

parte dessas entidades não dispõe de recursos para realizar, com qualida-

de, esse acompanhamento.

Esse distanciamento entre participação popular e as decisões legis-

lativas resulta, da mesma forma, em leis que não guardam relação com as

reais necessidades do povo brasileiro.

Se a pressão dos grandes meios de comunicação de massa e dos

grandes grupos de interesse dão a tônica no processo legislativo, as difi-

culdades de maior aproximação da academia e da sociedade civil organi-

zada para tentar fazer um contrapeso nesta balança, possibilitam ou refor-

çam a desconsideração da real correlação de forças na sociedade.

1 Nesta entrevista abordamos melhor o tema da reforma penal: <

<http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/511782-

-reforma-do-codigo-penal-qual-a-sociedade-que-queremos-entrevista-especial-com-patrick-mariano-gomes >>