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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 231 - 242, jan - fev. 2015

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instauração de um até então desconhecido, pela amplitude, processo de

crescimento econômico e de descobertas científicas. Tudo a corroborar a

crença na capacidade do homem ocidental e do sistema econômico fun-

dado no domínio da burguesia.

O problema é que esse quadro de aparente progresso trouxe consi-

go a adoção de um discurso universalista, de caráter eminentemente

mes-

siânico,

conforme asseverado por Tzvetan Todorov (2012, p. 41). Tratava-

-se de um

messianismo político

, baseado na ideia de que os benefícios da

modernidade deveriam ser espalhados a todas as regiões do planeta, em

missões civilizadoras sobre povos a quem, segundo Edward Said (1990, p.

46), era atribuída a qualidade de

raça submetida

, tendo, pois, necessida-

de de dominação.

O messianismo político da modernidade levou, portanto, à into-

lerância. Aquilo que não se amoldava à racionalidade ocidental capitalista

não poderia ser admitido: que os digam os povos indígenas da América La-

tina, submetidos ao processo de dizimação inclusive após a independência

política dos países da região; que os digam também os asiáticos e africanos

sujeitos às conquistas imperiais dos países centrais do capitalismo.

Essa prática perdura nos dias atuais. Os tempos, entretanto, são

outros. De um lado, eventos como a Grande Depressão de 1929, as duas

guerras mundiais e a degradação ambiental revelaram que as leis do mer-

cado e as grandes descobertas científicas não levavam, por si sós, a humani-

dade ao desenvolvimento. De outro lado, tem-se a vitória da modernidade

capitalista sobre a alternativa socialista soviética advinda com a Revolução

Russa, de 1917, representada pela Queda do Muro de Berlim em 1989.

É nesse quadro que Todorov (2012, p. 55) identifica uma nova fase

do messianismo político capitaneado pela burguesia. Trata-se de “[...]

impor o regime democrático e os direitos humanos pela força”, como se o

fim da União Soviética tivesse representado a vitória definitiva da demo-

cracia liberal dos países ocidentais.

Eis um entendimento eminentemente conservador, que arrebata

qualquer alternativa que não a do capitalismo deste início de século – o

capitalismo neoliberal -, de modo a radicalizar o presente como forma de

resolver todos os problemas. Como ressalta Boaventura de Sousa Santos

(2007, p. 54), criticando esse modelo, “há fome no mundo, há desnutrição,

há desastre ecológico; a razão de tudo isso é que o mercado não conseguiu

se expandir totalmente. Quando o fizer, o problema estará resolvido.”