

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 231 - 242, jan - fev. 2015
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proletariado ao Estado, especialmente em período eleitoral. Esse acesso,
porém, é limitado, na medida em que à classe subalterna é vedada a pos-
sibilidade de substituir o sistema econômico dominante por outro.
Os meios de comunicação são fundamentais no trabalho de ob-
tenção do
consenso
. Produtos diretos da expansão dos mercados, que os
levou a estruturar-se em oligopólios altamente capitalizados, a eles foi atri-
buída a tarefa de realizar a propaganda favorável ao capital. Fazendo uso da
liberdade de expressão consagrada desde as revoluções burguesas, torna-
ram-se verdadeiros “[...] ‘comissários’ do grupo dominante para o exercício
das funções subalternas da hegemonia social e do governo político [...]”
(GRAMSCI, 1982, p. 11), pautando os debates públicos de forma a mantê-
-los, quase sempre, sob a ordem e a segurança esperadas pelas elites.
É possível sustentar empiricamente essa ilação. Nesse sentido, tem-
se o caso do domínio ocidental sobre os países do Oriente Médio desde
os séculos XVIII e XIX, liderado inicialmente por franceses e ingleses, cuja
autoridade deu-se, primordialmente, pelo trabalho conjunto promovido
na literatura, na academia e na imprensa, responsáveis pela formação do
consenso às ideias que “[...] reiteravam a superioridade europeia sobre o
atraso oriental [...]” (SAID, 1990, p. 19).
No início do século XX, o trabalho midiático de formação de opinião
pública revelou sua força quando do ingresso dos Estados Unidos da Amé-
rica na Primeira Guerra Mundial. Descreve Noam Chomsky (2003, p. 11)
que, na época, a propaganda divulgada pelas empresas de comunicação
“[...] conseguiu, em seis meses, transformar uma população pacífica em
histéricos beligerantes, determinados a destruir tudo o que fosse germâ-
nico, esquartejar alemães, ir à guerra e salvar o mundo.”
Atuação semelhante da mídia estadunidense deu-se na Segunda
Guerra Mundial e, encerrado o conflito, no decorrer da Guerra Fria contra
a União Soviética e todos os governos que a ela se aliavam, ainda que
democraticamente eleitos. Tal atuação refletiu-se em países periféricos
como os da América Latina, cuja imprensa empresarial, em nome de su-
postas ameaças comunistas, apoiou a série golpes de Estado ocorridos na
região entre as décadas de 1960 e 1970, promovidos contra governos que
faziam concessões aos setores populares (BEZERRA, 2012, p. 113).
Em tempos atuais de imposição de direitos humanos pela força,
a mídia tem atuado, mais uma vez, de forma decisiva. É o caso das incur-
sões imperiais sobre o Oriente Médio, ora lideradas pelos Estados Unidos