Background Image
Previous Page  153 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 153 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 142 - 163, jan - fev. 2015

153

coprodução do

insconsciente

nesse inscrever. Quem ‘mexe as cordinhas’

sabe muito bem em que local colocar o Juiz, empurrando-o para este lo-

cal

paranoico

. Debruçando-se sobre o lugar do Juiz no Processo Penal,

Cordero já havia constatado este quadro: “

El inquisidor labora mientras

quiere, trabajando en secreto sobre los animales que confiesan; concebi-

da una hipótesis, sobre ella edifica cábalas inductivas; la falta del debate

contradictorio abre un portillo lógico al pensamiento paranoide; tramas

alambicadas eclipsan los hechos. Dueño del tablero, dispone las piezas

como le conviene: la inquisición es un mundo verbal semejando al onírico;

tiempos, lugares, cosas, personas, acontecimientos fluctúan y se mueven

en cuadros manipulables. (...) Juego peligroso, pues el escribiente redacta

com libertad, selectivamente atento a sordo a los datos, según que con-

validen o no la hipótesis; y siendo las palabras una materia plástica (los

acusados las lanzan como torrentes), cualquier conclusión resulta posible;

el estro poético desarrolla un sentimiento nascisista de omnipotencia, el

cual desaparece cualquier cautela de autocrítica

”.

33

No campo jurídico brasileiro, cuja estrutura propicia esse ‘

estado

ad-hoc

’, os magistrados – de regra – incorporam a função da lei do

Outro

e têm a certeza dessa verdadeira missão, muitas vezes, de extirpar o ‘mal’

da terra, informados pelo discurso

positivista

e

neoliberal

reproduzido

pela ‘Mídia’ da ‘Lei e Ordem’

34

. Sustenta Lacan: “

acreditam nisso para va-

ler, ainda que através de uma consideração superior de seu dever de en-

carnar uma função na ordem do mundo, pela qual elas assumem bastante

bem a imagem da vítima eleita.

35

Projetam-se no

ideal

, por mandato do

Outro

e têm a certeza de serem; o

Imaginário

é atravessado e aparece no

Real

, eles não têm a dúvida do sujeito

neurótico

clivado

, eles são o

Um

,

o

ideal

dos outros, impondo daí seu modelo, suas verdades, claro, como

se deu com a falácia desenvolvimentista da

Modernidade

denunciada por

Dussel. Dentro de sua

normalidade de fachada

, projeta-se no

outro

, não

sendo raro condená-lo, diz Miranda Coutinho: “

A anormalidade, todavia,

pode aparecer, como de fato aparece, quando alguém quer resolver seu

problema pessoal projetando a solução na desgraça alheia, o que não é

incomum em nossos dias.

36

33 CORDERO, Franco.

Procedimento Penal

, v. 1..., p. 23.

34 CARVALHO, Salo de.

Pena e Garantias..

., p. 25: “O inquisidor, representante divino, é órgão de acusação e julgamen-

to, figura sob a qual não podem pairar dubiedades, ou seja, trata-se de ente ‘semidivino’ cuja atividade não admite o

dissenso, pois, em última análise, colocar-se-ia em dúvida a própria figura onipresente e perfeita do Todo Poderoso.”

35 LACAN, Jacques.

Escritos...

, p. 152.

36 MIRANDA COUTINHO, Jacinto Nelson de.

Efetividade do Processo Penal...

, p. 36.