Background Image
Previous Page  151 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 151 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 142 - 163, jan - fev. 2015

151

losofia da Consciência’ atua com quadros mentais

paranoícos

(Cordero),

atendendo a seguinte dinâmica:

objeto

– textos normativos – à frente,

método

nas mãos, o intérprete do

senso comum teórico dos juristas

tem

a

certeza

de que ‘a norma lhe diz, ele descobriu’ ou então ‘ouviu a voz

do Legislador, ele me disse’, o que, se ocorresse num

set

terapêutico, por

certo seria enquadrado como

paranoia

. O juiz, nesse pensar,

sabe o que

o Outro diz e quer dizer

com as normas jurídicas, num

delírio jurídico

que

obtém aprovação e legitimidade universal. Dito de outra forma, super ego

se fa(e)z carne pelo Verbo: o Real é possível para ele

.

Esse quadro mental

paranoico ad-hoc

24

(ela, a paranoia, como uma

das modalidades de

psicose

) pode apresentar, segundo Lacan

25

, como

característica essencial a

foraclusão

do

Nome-do-Pai

no lugar do

Outro

,

experimentando-se

delírios

de interpretação, numa regressão ao

narci-

sismo

e concentração no gozo do

Outro

. Próximo à

neurose

e diferente

da

esquizofrenia

, o

paranoico

é a aderência ao significante

Um

26

(S1), o

significante mestre do qual se encontra preso. Lacan aponta que o meca-

nismo está retido na

foraclusão

do

Nome-do-Pai

. Freud já havia afirma-

do que a

paranoia

decorre da recriminação à experiência de

gozo

que,

ao ser recordada, traz consigo um

desprazer

. O

significante

do

gozo

, no

neurótico obsessivo

’, é seguido por uma autorrecriminação que é

recal-

cada

, apresentando o

sintoma

primário da

escrupolosidade

, formando

o casal gozo-

culpa

. É eternamente

culpado

pelo encontro com o

gozo

,

substituído por outros na cadeia de

significantes

, mas mantendo, contu-

do, a

estrutura

. Aparece em consequência da representação no

Simbóli-

co

da interdição primária, do trilhamento

edipiano

27

. Já na

paranoia

não

existe a recriminação, ou seja, não está inscrita a crença no

Nome-do-Pai

,

retornando como uma alucinação sobre o sujeito, dado que preso sob

o

significante mestre

é retido,

não deslizando na cadeia de significantes

e, então, o

foracluído

retorna ao

Real

. O desejo da mãe não é barrado,

encontrando-se o sujeito alienado ao

significante

.

24 CASARA, Rubens. MELCHIOR, Antonio Pedro.

Teoria do Processo Penal Brasileiro.

V. 1. Rio de Janeiro: Lumen

Juris, 2013, p. 83.

25 LACAN, Jacques.

O seminário: as psicoses..

.

26 QUINET, Antonio.

O número um, o único...

, p. 11-25.

27 QUINET, Antonio.

O número um, o único...

p. 15: “É o que aparece com clareza quando colocamos a mãe no lugar

do encontro com o sexo e o pai como representante da lei. Temos, por um lado, a estrutura edipiana do sintoma

neuótico e, por outro, a articulação de dois significantes (a representação da experiência de gozo e a recriminação)

que bastam logicamente para constituir a cadeia significante do inconsciente.”