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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 66, p. 138 - 157, set - dez. 2014

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cia das pessoas por um esquema de legitimação da posse justa sobre algo,

i.e., desde que justamente adquirida, existe o direito absoluto sobre ela.

Nesse caso, é possível dispor da coisa da maneira como se quiser, ainda

que efeitos de desigualdade sejam gerados.

A tentativa de legitimação desse argumento intuitivo é a defesa de

um esquema de distribuição inicial ilustrado no caso de Wilt Chamberlain:

Não está claro como os que sustentam outras concepções de

justiça distributiva podem rejeitar a [teoria da titularidade].

Pois, suponha que uma distribuição preferida por uma destas

concepções que não a da titularidade seja realizada. Supo-

nhamos que seja sua favorita e chamemos esta distribuição

D1; talvez todos tenham uma parcela igual, talvez as parce-

las variem em conformidade com alguma dimensão que você

valoriza. Suponha agora que a procura por Wilt Chamberlain

por parte dos times de basquete seja grande, já que ele é

uma grande atenção para o público [...] Ele assina o seguinte

tipo de contrato com um time: em cada jogo local, vinte e

cinco centavos do preço de cada ingresso vão para ele. [...]

A temporada começa e as pessoas vão alegremente aos jo-

gos do seu time; elas compram seus ingressos, depositando a

cada vez vinte e cinco centavos do preço da entrada em uma

caixa especial com o nome de Wilt Chamberlain. Estão entu-

siasmadas por vê-lo jogar; isso vale o preço total do ingresso

para elas. Suponhamos que, em uma temporada, um milhão

de pessoas vão aos seus jogos locais e Wilt Chamberlain ter-

mine com US$ 250.000, uma soma muito maior do que a ren-

da média e maior até do que a de qualquer outra pessoa. Ele

tem direito a essa renda? Esta nova distribuição D2 é injusta?

Se é, por quê? Não há nenhuma questão quanto a cada pes-

soa ter ou não ter direito ao controle sobre os recursos que

detinha em D1 porque esta foi a distribuição (sua favorita)

que (para os fins do argumento) supomos que fosse acei-

tável. Cada uma destas pessoas escolheu dar vinte e cinco

centavos de seu dinheiro a Chamberlain. Elas poderiam tê-los

gastado em cinema, doces ou cópias da revista

Dissent ou da

Monthly Review

. Mas todas elas, ou pelo menos um milhão