

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 23 - 36, Setembro/Dezembro 2017
29
O lúdico facilita a compreensão da assertiva basilar deste incipiente
estudo: o Poder Judiciário, para legitimar sua atuação republicana e demo-
crática, deve prestar contas, ato a ato, da parcela do poder soberano a ele
delegada pelo povo, através de decisões adequadamente fundamentadas. De-
vemos ter, como norte, o que o processualista e professor Eduardo Cambi
chama de “fundamento do fundamento”.
Não são poucos os doutrinadores que se propõem a tecer agudas
considerações sobre o assunto ora abordado. Michele Taruffo, por exemplo,
faz questão de ressaltar que a distinção entre o exercício arbitrário do poder
exercido pelo juiz e a prestação válida e legal da atividade judicante reside,
sobretudo, na sua
“obligación de justificar sus propias decisiones”
8
. Do con-
trário, teríamos um juiz ditador ou legislador.
O processualista oferece, ainda, um rol de razões pelas quais as nor-
mas ordinárias impõem a obrigação de motivação, dentre as quais cita a
persuasão das partes e de seus advogados, mormente a parte perdedora, acer-
ca
“de la bondad y la justicia de la decisión, así como del hecho de que el
juez valoró los fundamentos de las exigencias y excepciones contrapuestas”
9
.
Diminuir-se-ia, com isso, a quantidade de recursos interpostos em face da
decisão. Quanto melhor e mais adequadamente fundamentada a sentença,
maior o conformismo da parte vencida.
Por outro lado, Taruffo também destaca que, uma vez fundamen-
tado o pronunciamento, torna-se mais fácil precisar os vícios capazes de
embasar eventuais impugnações dos litigantes e individualizar-se o conte-
údo decisório, o que acabaria por simplificar a atividade interpretativa a
ser exercida sobre ele
10
.
Observa-se, na espécie, ligação direta com o princípio do contraditó-
rio participativo, apreendido em sua noção substancial, a partir do desenvol-
vimento conjunto, colaborativo e comparticipativo do processo, até a prola-
8 “En todo caso, se debe establecer una distinción entre el albedrío y la decisión correcta. El juez que decide sobre la base
de sus preferencias subjetivas, o de cuántas horas durmió a noche, de las impatía o enemistad que siente por el acusado,
o sobre la base de una posición económica de éste, o de alguna de las partes, incluso, que decide con miedo para no
molestar o pisar los callos de los que están al rededor, pues es un juez que no está francamente interpretando la ley, es un
juez parcial, para nada independiente, que decide de forma arbitraria, es decir, de acuerdo a intereses que se encuentran
a su al rededor, personales o del poder y, por ello, se trata de un juez que decide según su arbitrio o albedrío, y eso no
debe de suceder así. Entonces, ¿dónde está la línea de distinción entre el ejercicio arbitrario del poder que ejerce el juez
y el ejercicio válido y legal de esa actividad? Creo que ello radica en los criterios que el juez utiliza al interpretar la ley, es
decir, en la medida que provengan de ciencia jurídica, de la jurisprudencia y de la cultura general del jurista; pero, sobre
todo, derivan de su obligación de justificar sus propias decisiones.” (grifou-se) TARUFFO, Michele. Proceso y decisión:
lecciones mexicanas de Derecho Procesal. Madrid: Marcial Pons, 2012, p. 33.
9 TARUFFO, Michele.
La motivación de la sentencia civil.
Madrid: Editorial Trotta, 2011, p. 336.
10
Ibid
., p. 336-340.