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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 27, p. 213-276, 1º sem. 2017
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TESE
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A transformação aludida, que foi deflagrada a partir da disseminação
do ideal de justiça social e transformação do conceito dos direitos huma-
nos, conforme afirma Cappelletti, resultou em salutar releitura do tema
acesso à justiça e na consolidação de sua nova acepção. Acepção esta que
assumiu dupla face, uma vez que se passou a considerar não apenas o
acesso formal à justiça, mas, de igual modo, a se garantir o acesso material,
ou efetivo. Sobre o assunto:
À medida em que as sociedades do laissez–faire cresceram em
tamanho e complexidade, o conceito de direitos humanos pas-
sou a sofrer uma transformação radical. A partir do momen-
to em que as ações e relacionamentos assumiram, cada vez
mais, caráter coletivo que individual, as sociedades modernas
necessariamente deixaram para trás a visão individualista dos
direitos, refletida nas ‘declarações de direitos’, típicas dos sé-
culos dezoito e dezenove. O movimento fez-se no sentido de
reconhecer os direitos e deveres sociais dos governos, comu-
nidades, associações e indivíduos (...). Esses novos direitos hu-
manos, exemplificados pelo preâmbulo da Constituição Fran-
cesa de 1946, são, antes de tudo, os necessários para tornar
efetivos
, quer dizer, realmente
acessíveis
a todos, os direitos
antes proclamados. (...) Não é surpreendente, portanto, que
o direito ao acesso efetivo à justiça tenha ganho particular
atenção na medida em que as reformas do
welfare state
têm
procurado armar os indivíduos de novo direitos substantivos
em sua qualidade de consumidores, locatários, empregados, e,
mesmo cidadãos. (....)
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Acrescente-se que a partir desta mudança, que imprimiu conteúdo
substancial ou qualificado ao acesso à justiça, este direito passou a ser en-
carado “como requisito fundamental – o mais básico dos direitos huma-
nos- de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e
não apenas proclamar os direitos de todos.”
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29 CAPELLETTI, Mauro E GARTH, Bryant.
Acesso à Justiça.
op. cit., p.10.
30 CAPELLETTI, Mauro E GARTH, Bryant.
Acesso à Justiça
. op. cit., p.12.