Background Image
Previous Page  78 / 198 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 78 / 198 Next Page
Page Background

u

DECISÕES

u

u

Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 25, p. 59-176, 1º sem. 2016

u

78

te na demanda desse sujeito, e a subjetividade torna-se, então, uma peça

fundamental para o sucesso desses fornecedores, pois o sujeito tem a sua

demanda satisfeita, ilusoriamente, pelos produtos ofertados.

Assim, a sociedade de consumo só prospera quando perpetua essa

sensação de desamparo dos seus membros, e sua insatisfação é agravada

ainda mais pela frustração e pela infelicidade de uma total e inútil batalha,

observando-se que nada que não é autêntico pode gerar a felicidade. E de

modo superficial, esconder um desejo original jamais é autêntico.

Para Bauman (2008), a sociedade de consumo utiliza como seu alicer-

ce a promessa de satisfazer os desejos humanos em um nível que nenhu-

ma sociedade no passado poderia imaginar em alcançar ou, menos ainda,

tenha alcançado, mas a promessa de satisfação somente permanece sedu-

tora enquanto o desejo siga insatisfeito. A decepção do sujeito moderno

é inevitável na medida em que jamais esses indivíduos poderão atingir a

posição que desejam; a vitória é sempre momentânea e jamais inclui tudo

aquilo que eles gostariam de ver como satisfeitos.

A cultura de consumo é marcada pela constante pressão sobre o con-

sumidor para ser alguém diferente. Omercado de consumo se foca na ime-

diata desvalorização de suas ofertas anteriores. Promove a insatisfação

com a identidade adquirida e com o conjunto de necessidades pelas quais

essa identidade é definida. Somos seres humanos sincrônicos, ou seja, que

vivem somente para o presente, fruto de uma cultura imediatista que privi-

legia pressa e eficácia em detrimento da paciência e perseverança.

Vários autores têm abordado o tema; entre eles, pode-se citar Lipo-

vetsky (2010), Hofstede (1994), Featherstone (1995) e Bauman (2008). Das

primeiras concepções de consumo, este tem sido visto no seu significa-

do de relação entre pessoas, que leva à reprodução de um sistema social

desigual ou relacionado intimamente à criação do indivíduo como agente

social e ao desenvolvimento dessa identidade, da mesma forma que a tra-

dição associada ao individualismo expressivo.

O consumo também tem sido visto como meio de estabelecer uma

espécie de relação vertical entre indivíduos e sociedade, entre estruturas

sociais e pessoas, que agora são reconhecidas como agentes sociais. Aliás,