Background Image
Previous Page  64 / 222 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 64 / 222 Next Page
Page Background

u

ARTIGOS

u

u

Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 23, p. 47-100, 2º sem. 2015

u

64

Essa mudança legislativa (que entrou em vigor no dia 10/03/2015) só

vale para crimes cometidos a partir dessa data. Essa lei, por ser mais gra-

vosa, não retroage.

Sabe-se que o feminicídio já poderia (e, em alguns casos, já era) clas-

sificado como crime hediondo (homicídio por motivo torpe, fútil etc.). Afi-

nal, não há como negar torpeza na ação de matar uma mulher por discri-

minação de gênero (matar uma mulher porque usa roupas consideradas

inadequadas pelo agente ou porque não fez a comida corretamente ou

não limpou a casa etc.). Mas esse entendimento não era uniforme. Daí a

pertinência da nova lei, para dizer que todas essas situações configuram

indiscutivelmente crime hediondo.

Nos crimes anteriores a 10/03/2015, o motivo torpe continua sendo

possível. O que não se pode é aplicar a lei nova (Lei n.13.104/2015) para

fatos anteriores a ela (lei nova maléfica não retroage).

A comprovação de uma violência de gênero exige prova inequívoca.

Havendo dúvida,

in dubio pro reo

. A motivação do delito constitui o eixo da

violência de gênero. Uma vez comprovada essa circunstância, não se pode

mais invocar o motivo torpe: uma mesma circunstância não pode ensejar

duas valorações jurídicas (está proibido o

bis in idem

).

Pode ser que ocorra o abuso acusatório ou excesso de acusação, de-

vendo o juiz, quando do recebimento da denúncia, fazer as devidas cor-

reções de modo a evitar o excesso de acusação, podendo, por exemplo,

rejeitar parcialmente a inicial acusatória recebendo-a definitivamente com

os expurgos necessários, por falta absoluta de justa causa. A qualificadora

do feminicídio tem que ter justa causa específica (provas mínimas sobre

esse ponto). Sem isso, rejeita-se parcialmente a denúncia.

Na prática, significa que a pena será de 12 a 30 anos de reclusão. De

outro lado, que o crime não admite anistia (que se concede por meio de

lei), graça (que é o indulto individual concedido por ato do Presidente da

República), nem indulto (indulto coletivo, também outorgado pela presi-

dência da República, por meio de decreto – o indulto natalino é o mais

conhecido indulto coletivo).