

u
DEBATES JURISPRUDENCIAL
u
u
Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 23, p. 17-46, 2º sem. 2015
u
32
parceiros amorosos não raro são transformados em meros objetos para
usufruto egoísta.
O poder, como relação de força, apresenta-se, na sua forma mais ex-
trema, como o poder de matar, e é fato que muitas mulheres ainda hoje
estão submetidas ao poder masculino, pois, caso não se comportem da
forma esperada e exigida, estão sujeitas a serem punidas com a morte.
Nas relações de poder que permeiam as relações de gênero, são as
mulheres que sofrem violência e são assassinadas. São elas que são con-
troladas principalmente por meio de sua sexualidade e é sobre essa reali-
dade de opressão e violência que se fazem necessárias as políticas públicas
de proteção às mulheres.
Quando uma mulher está numa situação de violência, principalmente
a violência física, ela sempre é a hipossuficiente, mas não por elas serem
frágeis, e sim porque, efetivamente, elas são mais frágeis na medição de
forças com o homem. No campo psicológico, as mulheres são mais vul-
neráveis à sobrecarga de responsabilizações. No campo das relações ma-
teriais, as mulheres sofrem muito mais encargos do que os homens: são
principalmente delas as tarefas relativas ao lar e à criação dos filhos, além
de tudo que é necessário para que o homem tenha o conforto doméstico
necessário para exercer as suas funções no ambiente público. Do ponto
de vista econômico e profissional, o sucesso para as mulheres é, por uma
série de fatores, mais custoso do que para os homens.
Além disso, vivemos numa sociedade francamente machista, cuja ide-
ologia só permanece porque as mulheres estão submetidas a esse sistema
de crenças e a maioria aceita, de bom grado, se submeter ao poder mas-
culino, compartilhando ideias que lhe são desfavoráveis nas relações de
poder de gênero. O poder é algo que se exerce e, para ser exercido, conta
com a força, seja física ou ideológica. Os homens só conseguem exercer
poder sobre as mulheres quando elas se submetem ou são submetidas à
vontade do masculino. O poder efetivamente não pertence aos homens,
uma vez que as mulheres também o exercem. Analisar o poder como uma
relação de forças significa observá-lo na sua realização concreta enquanto
poder e contrapoder, enquanto relação de força e resistência.