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DEBATES JURISPRUDENCIAL

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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 23, p. 17-46, 2º sem. 2015

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No Brasil, a segurança ainda não é uma política pública. Pensar a se-

gurança em termos de ações e estratégias de redução da violência é algo

recente. O paradigma dominante ainda é o da guerra, que supõe que a so-

ciedade estaria dividida entre pessoas de bem (ou de bens) e os criminosos

(os outros, os diferentes, os estranhos, os inimigos). A lógica da guerra é a

da eliminação do inimigo. Essa ideologia não só é incompatível com o Esta-

do Democrático de Direito, como constitui um empecilho epistemológico

para abordar a segurança como política pública como segurança de todos

os direitos, respeitando a pluralidade e a cidadania.

A ideologia do punitivismo constitui o senso comum da sociedade

brasileira. Não se questiona a necessidade da punição. Ao contrário, a pu-

nição é tida como única solução para todos os males. Porém, ela não é

uma forma de resolução de conflitos. A punição não resolve o problema,

pois retira a vítima do cenário do conflito e não evita o crime. Ela apenas

exerce uma função simbólica, induzindo a sensação de que o Estado está

tomando alguma providência, enquanto, na verdade, serve apenas para

reafirmar o poder punitivo e calar a opinião pública que, cada vez mais,

pede mais punição, esquecendo-se de que mais poder punitivo (mais po-

der estatal) significa menos poder aos indivíduos (menos cidadania).

Longe de significar a redução da violência, a cultura punitiva reforça a

autoridade e o autoritarismo, mantém a estrutura de poder patriarcal, per-

petuando as relações de poder que sustentam a cultura de violência contra

a mulher. As práticas da justiça criminal reforçam as práticas patriarcais e

acabam julgando a conduta social dos envolvidos, e não o crime cometido.

Enquanto isso, as políticas públicas previstas no Plano Nacional de

Políticas para as Mulheres (PNPM) não foram implementadas, estando

muito aquém do desejável. As necessárias transformações sociais aconte-

cem muito lentamente.

A violência contra a mulher é um problema social e político. Para en-

frentá-la é necessário criar e implementar políticas públicas em diferentes

setores, que possam efetivar uma rede de serviços acessíveis às mulheres

que dela precisem e quando precisem.