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DEBATES JURISPRUDENCIAL
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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 23, p. 17-46, 2º sem. 2015
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pensar e a agir para “conquistar” o ser amado. E é nessa empreitada de
conquista que surgem as relações de poder.
O poder pode invadir a relação amorosa em qualquer de suas fases
de desenvolvimento, mas relações amorosas não são relações de poder.
Ele é o contrário do amor. O amor existe em relação ao outro pelo que ele/
ela é, pelas conexões cerebrais que provoca, pelo sentimento que desper-
ta, caracterizando-se pela generosidade, pela aceitação e pela vontade de
proteção. E isso não pode ser confundido com dominação. O amor não
é explicável por palavras ou elementos objetivos e isso o faz parecer um
capricho do destino.
Relações amorosas não são relações poderosas. O poder é uma re-
lação de força para que um indivíduo se amolde ao que o outro espera,
quer e exige. O poder dá início ao jogo da dominação e da conquista, à
subjugação da vontade do outro e consequente diminuição de sua liberda-
de e autodeterminação.
O poder não existe em si mesmo. Ele não está estanque nesta ou na-
quela pessoa. O poder não é algo que se tem, mas algo que se exerce. O
poder é exercido sempre que o outro o aceita ou se submete, seja pela
força (física) ou por meio dos mecanismos de dominação ideológica, em
que se subjuga a vontade do outro que, por sua vez, acredita que as coisas
são ou devem ser “desse jeito mesmo”.
O poder é aquilo que reprime os indivíduos ou classes, fazendo-os
se comportar de determinada forma, e não de outra, e será eficiente na
medida em que não precise utilizar a força. Na contemporaneidade, ele
não se exerce pela força bruta, mas pela força da manipulação ideológica,
que não constrange, mas convence o indivíduo a, voluntariamente, incor-
porar determinado sistema de crenças e a agir de acordo com elas. A ideo-
logia patriarcal e machista molda o jeito de ser e de pensar de homens e
mulheres. A ideologia capitalista, por sua vez, promove a degradação da
experiência amorosa, nela inoculando os parâmetros mercadológicos do
consumo e do descarte. Não obstante a liberdade sexual, temos extrema
dificuldade de estabelecer relações amorosas de alteridade para com nos-
sos parceiros amorosos. Em tempos líquidos, como diz Bauman (2014), os