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ARTIGOS

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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 56-109, 1º sem. 2018

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quer índole, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou

qualquer outra condição social.

Portanto, estamos diante de uma sociedade patriarcal onde tudo vive

em torno do gênero masculino e tudo deve ser para ele e por causa dele,

ou seja, o

homem é a métrica

de todas as coisas. Criou-se uma verdade de

secundarismo à mulher, relegada a uma posição de segundo plano em to-

dos os setores da vida, quer pessoal quer pública.

Sempre é salutar citar o artigo 8

o

da Carta de Belém, letra b, segun-

do o qual devem os Estados partes modificar os padrões socioculturais de

conduta de homens e mulheres, incluindo programas de educação formal

e não formal apropriados a todo nível do processo educativo para com-

bater o preconceito e os costumes e todo outro tipo de práticas que se

baseiem na premissa da inferioridade ou superioridade de qualquer dos

gêneros nos papéis estereotipados para o homem e a mulher, que legiti-

mam e exacerbam a violência contra a mulher.

Em algumas nações, a mulher não pode se locomover de um lugar

para outro sem uma autorização escrita de seu marido, configurando-se

uma dependência real jurídica. Em várias partes do mundo, e por ques-

tões culturais, a mulher foi e é considerada propriedade do homem, se não

juridicamente, com certeza no plano cultural, algo que se constata mui-

tas vezes em países democráticos. Na história, a mulher era considerada

propriedade do marido e não poderia praticar atos da vida civil sem a sua

autorização. A violência se dá em razão de o homem considerar a mulher

propriedade sua e o corpo, parte integrante de seus bens.

Como destacado por Magalhães, Canotilho & Brasil (2007), citando

Wilson, os estudos e os números de uxoricídio e de assassínio de namo-

radas, ex-namoradas ou ex-companheiras aí estão para que não se relaxe

tolerando comportamentos de violência. Como afirmouMaryWilson, vale a

pena perguntar por que razão os homens matam as esposas e companhei-

ras quando tudo indica que o que eles desejam é controlá-las. “(...) por pa-

radoxal que possa parecer, há evidências que mostram que o uxoricídio (as-