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ARTIGOS
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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 42-55, 1º sem. 2018
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pessoas transgêneras sofrem ao serem barradas pela polícia federal nas
fronteiras dos países para onde viajam; sofrem por não poderem se apre-
sentar em sala de aula com o nome e gênero (ou sexo) que as representa,
sendo alvo de constrangimento, zombaria, deboche e espancamento.
A respeito, refira-se episódio de sofrimento recentemente divulgado
pela mídia escrita:
“Luiza, que vive acompanhada dos pais e de seu filho, de 2
anos, conta todo o conflito e sofrimento pelo qual passou até
se descobrir transgênero, aos 23 anos. A mineira, que cresceu
sentindo-se rejeitada, achava que havia algo de errado com
ela antes de compreender sua identidade. ‘Do 4º ano até a 8ª
série, creio que apanhei no mínimo umas três vezes por sema-
na. Uma vez, dois meninos me seguraram na escola e uns ou-
tros 15 deram joelhadas no meu órgão sexual. E repetiam uma
frase icônica na minha vida: ‘Vira homem’. Pior ainda era não
poder contar nada aos meus pais sobre o que estava aconte-
cendo. Eu também ouvia o mesmo discurso deles’, conta ela,
em seu depoimento. ”
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Enquanto se discute nos Tribunais, em inúmeros processos que leva-
ram por vezes anos a chegar às Cortes, se é legítimo, na forma do ordena-
mento jurídico, a mudança do nome e do gênero/sexo, ou se só seria pos-
sível mudar o nome, mas deixar o sexo/gênero na forma original, porque
se teria uma preocupação com um futuro provável terceiro que pudesse
vir a ser enganado, ignorando nesse rumo o sofrimento da parte que é
real e está diante nós; enquanto perdurar esse não enxergamento do sofri-
mento que agride a dignidade da pessoa humana, estaremos contribuindo
para a homofobia, o preconceito, a discriminação, o homicídio de pessoas
trans e para o aumento de uma enorme insegurança, que leva à violência
e impede a paz social.
7 Disponível em:
[https://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/joao-jardim-aprofunda-olhar-sobre-pessoas--trans-em-serie-do-gnt-21885234]. Acesso em: 19/09/2017.