Previous Page  198 / 212 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 198 / 212 Next Page
Page Background

u

DECISÕES COMENTADAS

u

u

Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 193-211, 1º sem. 2018

u

198

ocorrem de forma mais específica e essas desigualdades se produzem em

termos interseccionais como da sexualidade, raça e classe social.

9

A violência e o tratamento degradante a que são submetidas as pes-

soas LGBTT dentro no sistema prisional vêm sendo objeto de pesquisas e

de ONGs que lutam pelos direitos da população LGBTT (ONG Somos, ONG

Igualdade RS, ONG GRAB, ONG Cellos-MG, Grupo Dignidade-PR, Adeh, Ca-

saNem e etc.). O sofrimento, no entanto, começa muito antes da seletivi-

dade penal realizada de forma binária pelo gênero (homem ou mulher), já

que muitas mulheres trans e travestis sofremmais com a violência pratica-

da pela família e pela sociedade que as rejeitam.

10

Pesquisas indicam que as taxas de suicídio permanecem altas após

a cirurgia de redesignação sexual e o Centro Nacional pela Igualdade de

Transgêneros relatou em 2015 que 40% das pessoas que se identificam

como transgênero tentaram o suicídio. Isso ocorre porque mesmo após

a submissão a um doloroso “processo de patologização” e procedimento

cirúrgico, o preconceito social continua operante.

As aspas acima no termo “processo de patologização” fazem refe-

rência a utilização do termo de forma crítica. O paradigma médico infeliz-

mente ainda é hegemônico no Poder Judiciário e na área da saúde acerca

das identidades não conformadas com sua designação de origem. O trata-

mento jurídico de identidades não binárias ou não conformadas com suas

designações de origem ainda está associado com um doloroso processo

de psiquiatrização dessas identidades: para o sistema de justiça, com raros

entendimentos divergentes, é necessário que se comprove uma disforia/

doença para o reconhecimento jurídico da identidade social de pessoas

transexuais, trangêneres e travestis. Esse processo está relacionado com

o controle dos corpos desviantes dos padrões impostos arbitrariamente

pela sociedade.

9 GG Ferreira - Temporalis, 2014 - publicacoes.ufes.b

10 Segundo pesquisa realizada pelo Centro Nacional pela Igualdade dos Transgêneros, em que 17.715 pessoas

trans foram entrevistadas, constatou-se que: 14% das/os transexuais foram enviados a um profissional, após

revelarem sua identidade de gênero à família, com a intenção de impedi-las/los de passarem pela transição; 10%

sofreram violência de algum membro da família; 8% foram expulsos de casa devido à sua identidade de gênero.

E a taxa mais alarmante: 40% das/os transexuais já tentaram o suicídio em algum momento de suas vidas.