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DECISÕES COMENTADAS

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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 193-211, 1º sem. 2018

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No entanto, a falta de dados acerca do número de pessoas transe-

xuais, transgênero e travestis no sistema prisional brasileiro demonstra o

completo descaso das instituições públicas e do Estado em relação a essa

população, que deveriam ter estruturado em seus sistemas de dados infor-

mações sobre a situação prisional da população LGBTT. Um único levanta-

mento encontrado ocorreu no Estado de São Paulo, através de dados for-

necidos pela Secretaria da Administração Penitenciária, de onde se aduz

que havia pelo menos 431 travestis e 19 transexuais presas em unidades

masculinas do sistema penitenciário paulista em 2013.

5

A população LGBTT sofre diversas formas de violações de direitos na

prisão, que incluem violências como o não reconhecimento das suas iden-

tidades de gênero, proibição do uso do nome social, proibição de usar rou-

pas femininas, raspagem forçada de cabelos, estupros, assédios e proble-

mas relacionados à falta de acesso à saúde, uma vez que muitas possuem

silicone industrial e fizeram/fazem uso de hormônios para as modificações

corporais, conforme relata o assistente social Guilherme Gomes em uma

entrevista concedida em 2017.

6

Em

Vigiar e Punir

, Foucault (1987) descreve que a forma-prisão pree-

xiste à sua utilização sistemática nas leis penais. Ela se constituiu fora do

aparelho judiciário, quando se elaboraram, por todo o corpo social, os pro-

cessos para repartir os indivíduos, fixá-los e distribuí-los espacialmente,

classificá-los, tirar deles o máximo de tempo, e o máximo de forças, treinar

seus corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los numa vi-

sibilidade sem lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de

observação, registro e notações, constituir sobre eles um saber que se

acumula e se centraliza.

7

5 LAGO, Natália; ZAMBONI, Marcio. políticas sexuais e afetivas da prisão gênero e sexualidade em contextos de

privação de liberdade.

In

: 40º encontro anual da anpocs - Spg 13: estudos em antropologia do direito, sociologia

da punição e encarceramento: discutindo o sistema prisional e socioeducativo no Brasil, 2016. Disponível em:

http://www.anpocs.com/index.php/papers-40-encontro/spg-3/spg13-3/10052-politicas-sexuais-e-afetivas-da-pre-

visao-genero-e-sexualidade-em-contextos-de-privacao-de-liberdade/file Acesso em 25/03/2018.

6

http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/568746-mulheres-travestis-pessoas-trans-e-gays-encarcera-

dos-enfrentam-mais-violencias-que-os-demais-detentos-entrevista-especial-com-guilherme-gomes. Acesso em

01/04/2018.

7 Foucault, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987.