

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 63 - 69, Janeiro/Abril 2018
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Quero falar de coisas que são comuns a quase todos os seus alunos
e, certamente, a todos que aqui estão hoje – da admiração, do carinho, da
amizade, da influência que ele exerceu em nossas vidas.
Quero falar do Professor José Carlos Barbosa Moreira.
Lá nos idos de 1968/69, na antiga UEG, então Universidade do Es-
tado da Guanabara, no casarão do Catete, um dia, ao sair de uma aula, pas-
sando pelo corredor do 2ª andar, parei em frente ao salão nobre para ouvir
a defesa da tese de um jovem. Um jovem um tanto quanto folgado e muito
atrevido, que ficava todo o tempo rebatendo com veemência a arguição da
Banca. Parecia estar brigando e ao mesmo tempo ensinando aos velhinhos.
Desculpem a expressão “velhinhos”, mas foi exatamente o que me passou
naquele momento e marcou muito a minha vida, pelo enfrentamento, pela
didática, pela ironia, e ao mesmo tempo pela elegância do examinando. Foi
aí que, pela primeira vez, vi, sem saber ainda o seu nome, o Professor José
Carlos Barbosa Moreira, que defendia tese para livre docência, intitulada “O
Juízo de Admissibilidade no Sistema dos Recursos Civis”.
Mais tarde, aquele mesmo Professor começou a dar aulas para a nossa
turma, no ano de 1971, e as surpresas foram inúmeras. Seria lugar comum
dizer que as salas de aula ficavam lotadas e na antiga UEG eram 300 alunos,
150 pela manhã e mais de 150 à noite. Pois alunos de outras turmas, àquela
época, já corriam para assistir às aulas do mestre que despontava.
Existem passagens interessantes daquela época que marcam a dimen-
são do Professor, sua preocupação, eu diria até obsessiva com os seus alunos
– vez por outra, para não atrasar as suas aulas, em decorrência do trânsito,
estacionava seu carro bem longe da faculdade e vinha em passos acelerados,
para não perder um minuto sequer daquele convívio, daquela comunhão.
Outra passagem pitoresca que o Professor sequer lembra, mas eu lembro
bem, pois tentei fazer experiência semelhante e que foi malsucedida, ocorreu
na turma da noite, quando a luz faltou. O Professor continuou a sua aula
com o absoluto silêncio e a atenção da turma, quando o normal seria o que
aconteceu com a minha turma: uma absoluta algazarra, só contida depois
de algum tempo.
Cada turma tem a sua história, as suas lembranças. Quem não se
recorda das figuras que o Professor José Carlos usava para ilustrar as suas
aulas? Em 1972, a fábula da Bela Adormecida no Bosque servia de base à
compreensão do recurso intitulado “o agravo no auto do processo”, parente
mais velho do que hoje conhecemos como o agravo retido. Para explicar o