Background Image
Previous Page  284 / 432 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 284 / 432 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

284

Com efeito, a atividade da Cruz Vermelha exige certa uniformidade

de pensamento e de conduta. Da atitude improvisada de Henry Dunant em

Solferino se despreendem alguns princípios que se verificam fundamentais

para o bom funcionamento a nível planetário da instituição que ele con-

cebeu. Pode-se dizer, portanto, que se faz necessário que a Cruz Vermelha

observe princípios e tenha uma doutrina bem definida, para fins de manter

a fidelidade aos ideais humanitários e o melhor funcionamento da máquina

universal de assistência que veio a se tornar. Daí a preocupação com a defi-

nição de princípios universais para a instituição.

A Cruz Vermelha se construiu pelo mundo, primeiramente, por meio

de ações práticas. A definição de uma doutrina para embasar tais ações

foi sendo formulada gradualmente, diante de situações concretas, sempre se

lembrando do sentimento básico que inspirou Henry Dunant em Solferino,

o qual poderia ser traduzido simplesmente na prática da caridade universal.

Depois da Primeira Guerra Mundial, contudo, a necessidade de se definir

uma doutrina uniformizadora da Cruz Vermelha se tornou mais imperativa,

sobretudo diante da proliferação de Sociedades Nacionais pelo mundo. Foi

assim na Conferência Internacional da Cruz Vermelha de 1921, em que se

reconheceu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) como sendo

o guardião e propagador dos princípios fundamentais, morais e jurídicos da

instituição e se incumbiu o mesmo de velar por sua difusão e aplicação no

mundo. Note-se que, até 1915 (após 52 anos de existência), o próprio CICV

sequer tinha vislumbrado a necessidade de se dotar de estatutos, bastando

para tanto o conteúdo da sua 1º Conferência Internacional, de 1863, e da

subsequente Convenção de Genebra de 1864.

Na verdade, a primeira expressão dos princípios fundamentais da

Cruz Vermelha data de 1920. Um dos membros do Comitê (CICV), M. Ed-

mond Boissier, afirmava na

Revue internationale de la Croix Rouge

(agosto

1920, pag. 883) que “

le príncipe reconnu et proclamé jusqu’ici par toutes les

Sociétés unies sous le drapeau de la Croix Rouge, c’est la charité universelle,

vouée au service de l’humanité souffrante, sans distinction de races, de fron-

tières. Charité et universalité, à côté de l’indépendance et de l’impartialité,

sont les caractères essentiels et distinctifs de la Croix-Rouge

20

. Sua intenção

não era criar nada de novo do ponto de vista moral, mas consolidar valo-

res humanitários universais de longa data. No ano seguinte, em 1921, o

CICV instituía expressamente nos seus estatutos um sumário dos princípios

20 Boissier, Edmond,

Revue Internationale de la Croix Rouge

, CICV, agosto de 1920, pag. 883.