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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

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tuito de levar adiante a ideia de ultrapassar os limites de Genebra, propondo

a criação de sociedades nacionais de socorro permanente aos feridos em ação

de guerra. Estavam presentes, além de Henry Dunant e Gustave Moynier, o

Dr. Louis Appia

3

, o Dr. Theodore Maunoir e o respeitado General G.H. Du-

four. Formou-se naquele dia o Comitê dos Cinco, verdadeiros fundadores da

Cruz Vermelha, embrião do futuro Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Das atas do Comitê constam as diretrizes da nova organização, desta-

cando a necessidade de enviar enfermeiras aos campos de batalha e de se obter

transporte, hospitais e tratamento adequados para os feridos. Saiu daí também

a ideia de reunir em Genebra especialistas de diferentes países do mundo para

discutir a questão. Tal encontro, conhecido como a 1º Conferência de Gene-

bra, ocorreu em 23 de outubro de 1863 e marca o nascimento da Cruz Verme-

lha. Para promover dito encontro, Henry Dunant viajou por vários países da

Europa, angariando apoio à nova organização. Compareceram então trinta

e um delegados representando dezesseis países. Moynier presidiu os debates,

onde se adotou a recomendação de que a organização seria neutra, assim como

neutras seriam as ambulâncias, os médicos e seus assistentes. Como estes eram

frequentemente alvejados em campo de batalha enquanto socorriam os feri-

dos, estipulou-se que usariam um emblema identificador, representado pela

cruz vermelha em fundo branco (numa evocação à neutralidade suíça, que,

àquela altura, já era respeitada por todos os países)

4

.

Nascia, portanto, a Cruz Vermelha. Faltava, contudo, um apoio insti-

tucional de maior envergadura; nesse sentido, o Comitê dos Cinco fez gestões

junto ao governo suíço para convocar uma ampla conferência diplomática, a

qual se reuniu em Genebra em 8 de agosto de 1864. Deste encontro, gerou-se

a 1º Convenção de Genebra, tratado que é o verdadeiro marco histórico do

direito humanitário

5

. Compareceram vinte e quatro delegados dos dezesseis

países que aceitaram o convite. Os Estados Unidos foram convidados por

carta enviada por Henry Dunant diretamente ao então Presidente Lincoln,

que acabara de assinar a abolição da escravatura em seu país. Os EUA, no

entanto, acabaram não sendo signatários da referida convenção, por motivos

3 Médico inventor de um novo tipo de maca para transporte de feridos.

4 Cite-se aqui, por curiosidade, a sugestão (não acolhida!) do delegado inglês Twining de suprimir os feridos terminais

de forma humanitária, após estes fazerem suas últimas orações, a fim de que não morressem com a mente febril e uma

blasfêmia nos lábios, como o menciona Pam Brown em sua obra “Henry Dunant, o fundador da Cruz Vermelha. Sua

compaixão salvou milhares de vidas”, Exley Publications Ltd. 1988.

5 Não confundir a 1ª Conferência de Genebra de 23/10/1863, que criou a Cruz Vermelha e reuniu especialistas em

questões sanitárias e militares, com a subsequente 1ª Convenção de Genebra, de 8 a 22 de agosto de 1864, tratado esse

realizado por diplomatas que inaugurou o direito humanitário.