

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017
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visasse justamente a prestar auxílio às vítimas de conflitos armados. A ideia
se propagou com grande êxito e foi adotada por quase todos os países do
mundo. A Cruz Vermelha passou também a se ocupar de outras tarefas em
tempos de paz, como a prevenção de epidemias e a assistência a vítimas de
catástrofes naturais. A estrutura montada para tempos de guerra se mostrou
perfeitamente apta aos tempos de paz, evitando desperdícios logísticos.
Outra tarefa a que a Cruz Vermelha se dedicou desde a primeira hora
foi o desenvolvimento do direito humanitário. Afinal, tão importante quan-
to cuidar dos feridos é tentar evitar o seu sofrimento. Imbuída desse espírito,
a Cruz Vermelha têm atuado como grande promotora da implementação de
tratados internacionais para regulamentação do direito da guerra, dos cuida-
dos com os feridos, com os prisioneiros e com a população civil vítima de
tais conflitos. São famosas as Convenções de Genebra a esse respeito, todas
entabuladas sob os auspícios da Cruz Vermelha.
A rigor, fica difícil relatar todas as atuações da Cruz Vermelha pelo
mundo. Preferimos aqui, em vez disso, narrar a história da Cruz Verme-
lha, descrever sua estrutura e, sobretudo, expor os princípios jurídicos
humanitários que norteiam sua atividade. Tais princípios constituem
sua verdadeira alma, que informam sua estrutura e definem sua atuação.
Eles foram sendo concebidos ao longo dos mais de cento e cinquenta
anos da sua existência. Obra de vários juristas, é certo, mas que teve um
embrião matricial na pessoa de Henry Dunant e de sua luta, a partir do
que assistiu na Batalha de Solferino.
2. HENRY DUNANT E A BATALHA DE SOLFERINO
Algumas correntes da História tendem a subestimar a influência
do indivíduo no curso dos acontecimentos. A História decorreria assim
mais de fatores coletivos ou anônimos, como a luta de classes etc. e não da
atuação de pessoas destacadas. Mas o caso da história da Cruz Vermelha
parece uma exceção a tais conclusões. De fato, essa organização suprana-
cional de dimensões planetárias tem sua origem indiscutível no esforço de
um homem, o qual, durante toda sua vida, lutou pela construção de uma
entidade que prestasse socorros às vítimas dos conflitos armados. Sem a
atuação individual de Henry Dunant nada disso existiria. Por esse motivo,
vale a pena relatar aqui a sua epopeia, da qual resultou a criação da Cruz
Vermelha, assim como a 1º Convenção de Genebra, com o consequente
desenvolvimento do direito humanitário.