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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

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Henry Dunant chegou desavisado a esse cenário e imediatamente se

colocou a serviço no tratamento dos feridos, improvisando um hospital em

Castiglione. O trabalho era inglório e os feridos morriam às centenas a cada

instante, não só pela gravidade das feridas, mas também pela total falta de

infraestrutura, como médicos, enfermeiras, remédios, gazes, leitos, ambulân-

cias etc. As mulheres de Castiglione se entregaram ao extenuante trabalho

voluntário no cuidado dos feridos, lembrando, diante do fato de estarem

tratando também de soldados inimigos, que naquele momento trágico eram

tutti fratelli

”. A comoção de Henry Dunant o levou a empregar todas suas

forças físicas e seu dinheiro pessoal na ingrata empreitada, eis que era paten-

te o despreparo do serviço médico das forças armadas francesas, pelo menos

para sequelas sanitárias daquelas proporções.

Passados esses momentos tensos, Henry Dunant foi morar em Paris,

frequentando as altas rodas da sociedade. A experiência vivida em Solfe-

rino lhe rendera a condecoração de São Maurício e São Lázaro em 1860.

Suas lembranças, porém, o continuaram atormentando, o tanto que decidiu

que algo deveria ser feito para aliviar o sofrimento dos feridos de guerra.

Escreveu então, em 1862, um livro relatando o que viu: “

Un souvenir de

Solf

é

rino

”. O sucesso foi impressionante! O livro retrata com detalhes os

sofrimentos individuais de vários feridos, além do esforço seu e das pesso-

as então envolvidas na tentativa de socorrê-los. Descreve detalhadamente

a morte de trágica de vários combatentes no campo de batalha, pessoas

pertencentes à sociedade parisiense e vienense, por ex. nobres que tiveram

sua cabeça estilhaçada por obuses ou seu maxilar separado da face por um

sabre etc. No final da obra, formula a seguinte indagação: “

não seria possível

fundar, em tempo de paz, sociedades prestadoras de socorro, compostas por

voluntários abnegados altamente qualificados para, em tempo de guerra,

prestar assistência aos feridos?

”.

Em decorrência da sua obra, recebeu diversas cartas comovidas feli-

citando-o, notadamente de monarcas europeus e celebridades, como, por

ex. Florence Nightingale, famosa pioneira da enfermagem. Tal repercussão

o fez ser procurado por um velho amigo seu, Gustave Moynier, advogado

que presidia a Sociedade de Beneficiência de Genebra. Juntos, esboçaram o

projeto daquela que seria uma nova organização para os fins vislumbrados

por Henry Dunant em seu livro. Tal entidade seria composta por sociedades

nacionais, às quais caberia recrutar os colaboradores em tempo de paz. A

Sociedade de Beneficiência se reuniu então em 9 de fevereiro de 1863, no in-