

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 121 - 142, Maio/Agosto. 2017
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grande cidade de negócios. Por meio dessa perspectiva, foi criada a Agência
Rio-Negócios, inspirada na agência inglesa Think London e na colombiana
Invest Bogotá. Fundada pela prefeitura municipal, a Rio-Negócios tem como
finalidade o apoio aos empresários interessados em investir na cidade. Para
isso, a mesma auxilia os projetos de iniciativa privada, além de aproximá-los
do campo midiático e político. Essa lógica desenvolvimentista capitalista só
é viabilizada graças à cooperação do Estado, permitindo o avanço de obras
e remoções na cidade
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.
Com megaobras em andamento por todo o município, como os
projetos olímpicos e a revitalização do porto, uma onda de desapropria-
ções e remoções retorna ao Rio, tendo como foco, novamente, as popu-
lações mais pobres. Entre os motivos apresentados pela SMH para as in-
tervenções estão as obras para a realização dos megaeventos e a falta de
infraestrutura das áreas nas quais habitam e, por consequência, os riscos
de vida que essas pessoas correriam, como episódios de deslizamento de
encostas nas favelas.
Porém, tais motivos acobertam uma política benéfica a interesses fi-
nanceiros privados. A estratégia envolve, essencialmente, a remoção da po-
pulação pobre dos arredores das obras e projetos ligados aos megaeventos
– valorizados, por conta disso – para viabilizar posteriormente novos empre-
endimentos dos setores imobiliário e da construção civil. Isso é comprovado
pelo fato de que apenas uma pequena parte da área que sofre a intervenção
do Município é aproveitada efetivamente para as obras relacionadas aos
megaeventos, como, por exemplo, corredores viários e instalação de equipa-
mentos esportivos
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.
Assim, na favela como na cidade formal, grande parte desses
terrenos originalmente públicos ou aqueles fruto de desapro-
priação, após a execução das obras de infraestrutura, será entre-
gue à iniciativa privada para a especulação. O Estado nessa re-
gião atua como mitigador dos riscos de investimento privado,
ao mesmo tempo em que oferece terrenos, todas as condições
de infraestrutura, parâmetros urbanísticos mais complacentes
e sobretudo financiamentos.
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45 FAULHABER; AZEVEDO, op.cit, p. 23.
46 Idem, 2015, p. 42ss.
47 Idem, 2015, p. 59.