Background Image
Previous Page  136 / 432 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 136 / 432 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 121 - 142, Maio/Agosto. 2017

136

grande cidade de negócios. Por meio dessa perspectiva, foi criada a Agência

Rio-Negócios, inspirada na agência inglesa Think London e na colombiana

Invest Bogotá. Fundada pela prefeitura municipal, a Rio-Negócios tem como

finalidade o apoio aos empresários interessados em investir na cidade. Para

isso, a mesma auxilia os projetos de iniciativa privada, além de aproximá-los

do campo midiático e político. Essa lógica desenvolvimentista capitalista só

é viabilizada graças à cooperação do Estado, permitindo o avanço de obras

e remoções na cidade

45

.

Com megaobras em andamento por todo o município, como os

projetos olímpicos e a revitalização do porto, uma onda de desapropria-

ções e remoções retorna ao Rio, tendo como foco, novamente, as popu-

lações mais pobres. Entre os motivos apresentados pela SMH para as in-

tervenções estão as obras para a realização dos megaeventos e a falta de

infraestrutura das áreas nas quais habitam e, por consequência, os riscos

de vida que essas pessoas correriam, como episódios de deslizamento de

encostas nas favelas.

Porém, tais motivos acobertam uma política benéfica a interesses fi-

nanceiros privados. A estratégia envolve, essencialmente, a remoção da po-

pulação pobre dos arredores das obras e projetos ligados aos megaeventos

– valorizados, por conta disso – para viabilizar posteriormente novos empre-

endimentos dos setores imobiliário e da construção civil. Isso é comprovado

pelo fato de que apenas uma pequena parte da área que sofre a intervenção

do Município é aproveitada efetivamente para as obras relacionadas aos

megaeventos, como, por exemplo, corredores viários e instalação de equipa-

mentos esportivos

46

.

Assim, na favela como na cidade formal, grande parte desses

terrenos originalmente públicos ou aqueles fruto de desapro-

priação, após a execução das obras de infraestrutura, será entre-

gue à iniciativa privada para a especulação. O Estado nessa re-

gião atua como mitigador dos riscos de investimento privado,

ao mesmo tempo em que oferece terrenos, todas as condições

de infraestrutura, parâmetros urbanísticos mais complacentes

e sobretudo financiamentos.

47

45 FAULHABER; AZEVEDO, op.cit, p. 23.

46 Idem, 2015, p. 42ss.

47 Idem, 2015, p. 59.