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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 78, p. 9 - 38, Janeiro/Abril 2017

concepcionais

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– seja pela falta de acesso a anticoncepcionais, pela falta de

conhecimento para o uso correto e/ou pela, não rara, falha de métodos con-

traceptivos corretamente utilizados; e, por fim, simplesmente porque não

querem levar a gravidez adiante.

Atualmente, o aborto inseguro

14

ou clandestino é um problema

da “mulher comum brasileira”. Segundo a Pesquisa Nacional de Aborto

(PNA)

15

, publicada em 2010, e cujas conclusões, tidas como referência pela

Organização Mundial da Saúde (OMS), se mantêm inalteradas, uma a cada

cinco mulheres com mais de 40 anos já fez, pelo menos, um aborto na

vida

16

. Dito de outra forma: 20% das brasileiras em idade de gestação ad-

mitem ter abortado em algum momento do auge de sua vida fértil. Os

níveis de internação pós-aborto são elevados e colocam o aborto como

um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres

que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por

complicações relacionadas ao aborto, o que corresponde a 8% das mulhe-

res entrevistadas.

Em 2013, pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) realizou uma

estimativa de que

o número de abortos

realizados no Brasil pode ultrapassar um milhão de mulheres

.

De acordo

com a pesquisa, mais de

8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18

e 49 anos já fizeram ao menos um aborto

na vida. Destes,

1,1 milhão

de abortos

foram provocados. Abortos estes que têm

cor e renda

: no Nor-

deste, uma das mais pobres regiões do Brasil, o percentual de mulheres sem

instrução que fizeram aborto provocado (37% do total de abortos) é sete

vezes maior que o de mulheres com ensino superior completo (5%); entre

cles/10.1186/s12916-014-0144-z>. Acesso em  20  abr.  2016. 

13 Cf. pesquisas do ALAN GUTTMACHER INSTITUTE. Induced abortion: incidence and trends worldwide from 1995

to 2008, Lancet, 2012, (pp.625–632)., p. 628. Disponível

<https://www.guttmacher.org/pubs/IB_AWW-Latin-America-

-SP.pdf>. Acesso em  20  abr.  2016. 

14 A Organização Mundial de Saúde define como aborto inseguro a interrupção da gravidez praticada por um indivíduo

sem prática, habilidade e conhecimentos necessários ou em ambiente sem condições de higiene.

15 A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) é um levantamento por amostragem aleatória estratificada de domicílios que

abrangeu 2.002 mulheres alfabetizadas com idades entre 18 e 39 anos, em todo o Brasil urbano. Realizado em 2010, sob a

coordenação da antropóloga e professora da Universidade de Brasília, Debora Diniz, o objetivo da PNA foi oferecer dados

sobre aborto no Brasil, a fim de subsidiar ações de saúde pública para as mulheres em idade reprodutiva e fornecer informa-

ções necessárias para o desenho de novas sondagens do tipo e parâmetros para estimativas indiretas. Esta pesquisa conseguiu

registrar o número de mulheres brasileiras que abortaram e apontou que o número de abortos realizados no país é superior

ao contabilizado, não só porque uma mesma mulher pode abortar mais de uma vez, mas também porque as mulheres analfa-

betas e as áreas rurais do Brasil não foram cobertas pelo inquérito. Cf. DINIZ, Debora; MEDEIROS, Marcelo.

Aborto no

Brasil

: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 15, supl. 1, p. 959-966, jun.

2010 . Disponível em

<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000700002.

> Acesso em 20 abr. 2016.

16 Cf. DINIZ, Debora; MEDEIROS, Marcelo, 2010. Idem p. 962.