

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 62 - 71, out. - dez. 2016
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Define Rousseau com precisão o papel dessa mulher e ainda o jus-
tifica com fundamento na “razão”:
“quando a mulher se queixa (...) da injusta desigualdade que
o homem institui, ela está errada, tal desigualdade não é
uma instituição humana, ou pelo menos não é obra do pre-
conceito, mas da razão; cabe aquele dos dois sexos que a na-
tureza encarregou da custódia dos filhos responder por isso
diante do outro
(...)
Se há uma condição horrível no mundo, é a de um infeliz pai
que, sem confiança na mulher, não ousa entregar-se aos
mais doces sentimentos de seu coração, que se pergunta, ao
beijar o filho, se não está beijando o filho de outro homem,
a prova de sua desonra, o ladrão do bem de seus próprios
filhos.”
(Idem).
A dúvida sobre a paternidade e a suspeita de traição sempre ator-
mentaram homens de todos os tempos, como o Bento (o
Dom Casmurro
)
de Machado de Assis e o Otelo, de Shakespeare. Essa visão aparentemen-
te superada e ultrapassada ainda está presente, com força, em nossa cul-
tura. Subsiste, mas agora de forma velada, o que nos dificulta enxergá-la
com a nitidez e a clareza que outrora existia. Situações de nosso cotidiano
- tais como a existência de um fraldário apenas no banheiro feminino - só
reforçam essas características básicas do modelo patriarcal. São detalhes
do nosso dia-a-dia que passam despercebidos. Para superar obstáculos
que à primeira vista nos parecem mais do que “naturais” é fundamental
um olhar crítico voltado para o resgate das origens de determinados valo-
res, bem como a percepção de que os problemas históricos de discrimina-
ção e hierarquização permanecem.
ONDAS FEMINISTAS
O feminismo surge como forma de questionar esse papel a que es-
taria submetida a mulher na sociedade. É uma forma de
“repensar e recriar a identidade de sexo sob uma ótica em
que o indivíduo, seja ele homem ou mulher, não tenha que