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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 73, p. 225 - 238, abr. - jun 2016

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nidade para ambos os entes: empresa e empresário. A empresa recupe-

ra-se; o empresário reabilita-se. A criatura separa-se do criador. É como

um filho que nasce; uma vez nascido, separado da mãe está, tendo vida

própria. Como filho, recebe os conselhos e advertências paternos e, uma

vez amadurecido, ganha autonomia. No caso da empresa, a autonomia se

reflete numa governança corporativa eficaz, que se desvincula, de certa

forma, do seu criador

(vide nota 4)

.

3. A FIGURA ESTERIOTIPADA DO EMPRESÁRIO BRASILEIRO

Outro aspecto que convém ser abordado é o do imaginário po-

pular. Para este, o empresário é aquele que usufrui dos benefícios que

o lucro propicia e nada mais. Daí a conclusão de que aquele que tem

um “carrão”, ou um “casarão” beneficiou-se dos “favores” do capital às

custas do suor alheio.

Essa visão está impregnada de crenças religiosas, que, via de regra,

fazem do agente econômico um “

usurpador”

, numa visão distorcida do

que efetivamente é a atividade empresarial. Vale dizer, desconsidera todo

o esforço e poupança empregados, bem como os elevados riscos que lhe

são inerentes.

Confunde-se o exercício da atividade econômica e seus riscos com

a usura. Sabe-se que a proibição à usura vem desde há muito. O Códi-

go de Hamurabi já abolia a usura, entendendo tratar-se de cobrança de

remuneração abusiva pelo uso do capital.  Aristóteles (1998:28), em sua

obra

Política

, já evidenciava ser a usura abominável, considerando-a

mais

odiosa que o tráfico de dinheiro, que consiste em dar para ter mais e com

isso desviar a moeda de sua destinação primitiva.

Contudo, essa visão parece ser equivocada, uma vez que o próprio

empresário também sofre os efeitos da incidência de cobrança abusiva de

juros. O capital também é para ele relevante, viabilizador do fimmaior: a or-

ganização econômica destinada a fazer circular a riqueza (bens e serviços).

A despeito de tempos difíceis como o hodierno, em que os efeitos

da “Operação Lava Jato” (vide nota 5) vem desconstruindo moralidades

falsificadas e revelando verdades ocultas dos seus autores (outrora co-

nhecidas como figuras respeitáveis), é preciso atentar para a necessidade

de o País mudar de mentalidade e dar crédito a quem merece ter crédito.

Existem Empresários e empresários. Assim, como Profissionais e

profissionais. Existem aqueles que efetivamente assumem o seu papel de