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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 73, p. 218 - 224, abr. - jun 2016

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Esse transexual, todavia, pode sentir atração por homens (tran-

sexual heterossexual), mulheres (transexual homossexual), por ambos

(transexual bissexual), ser transexual assexuado ou até mesmo revelar-se

um transexual pansexual.

Veja-se que a realidade social mostra episódios absolutamente dis-

tantes dos padrões convencionais, aí se incluindo a premissa, até pou-

co tempo inabalável, de que apenas mulheres poderiam engravidar. Na

Argentina, Alexis Taborda casou-se com Karen Bruselario. Seria um casa-

mento convencional, não fosse o fato de que suas identidades não refle-

tem o gênero a que pertencem pelo critério biológico. Os dois são tran-

sexuais, ou seja, Alexis é biologicamente do gênero feminino, ao passo

que sua mulher Karen é biologicamente do gênero masculino, tendo sido

preservadas suas capacidades reprodutivas biológicas. Alexis, assim, en-

gravidou de sua esposa, dando à luz uma saudável criança, batizada como

Genesis Evangelina.

Nota-se, pela transexualidade, a ausência de correspondência en-

tre a identidade de gênero do transexual e aquela designada pelo registro

público, por ocasião do seu nascimento.

É o caso Lili, ocorrido na década de 20, que ganhou notoriedade a

partir de 2016 pela (pseudo) cinebiografia “garota dinamarquesa”. Tal en-

redo retrata uma das primeiras cirurgias realizadas em transexual visando

a adequação do fenótipo. Gerda Gottileb precisava concluir a pintura de

um quadro retratando uma atriz vestida de bailarina. Pela ausência da

modelo, solicitou que seu marido Einar colocasse um vestido com saia

plissada, sapatos altos e meias. Após curta hesitação, o marido aceitou a

experiência que viria a mudar para sempre sua vida e revelaria sua verda-

deira identidade. Passou a vestir-se como mulher em viagens para França

e Itália, apresentando-se publicamente como Lili Ebe.

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina editou a resolução

1.955/2010, definindo o transexual como “portador de desvio psicológico

permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência

à automutilação e/ou autoextermínio”, contrariando sistemas mais avan-

çados, como o Francês, que desde 2010 deixou de considerar a transexu-

alidade um transtorno mental, pioneirismo que tende a ser seguido pela

Organização Mundial de Saúde - OMS.

Vê-se, desse modo, que a cirurgia disciplinada pelo CFM representa

uma simples readequação do corpo à identidade de gênero, não haven-