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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 191 - 202, jan. - mar. 2016

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4. O MACHISMO COMO ARMA DE DESTRUIÇÃO EM MASSA DAS

MULHERES

Em 2013, 12 mulheres foram assassinadas diariamente no Brasil

(Datasus). Calcula-se que em 2015 esse número possa chegar a 14 ou 15.

Quase metade desses óbitos decorre de violência de gênero (o macho se

sente proprietário da mulher – do seu corpo -, podendo fazer com ele o

que bem entender). Diante de um problema tão grave, é um absurdo eli-

minar a discussão de gênero dos planos nacional, estaduais e municipais

de educação. Isso é fruto de ignorância crassa (não podemos esquecer

que nossa média de escolaridade é de apenas 7,2 anos, igual à de Zimbá-

bue, que é uma nação muito mais pobre e menos estruturada).

As tradições religiosas bem como a história do pensamento (laico)

nos legaram uma confusão tremenda entre constituição biológica do hu-

mano, gênero, identidade sexual, identidade de gênero e orientação sexual.

Biologicamente (salvo desvios excepcionais da natureza) nascemos

homem (com órgãos reprodutores masculinos, cromossomos e certos ní-

veis hormonais) ou mulher (órgãos reprodutores femininos e demais ca-

racterísticas orgânicas correspondentes).

Mas uma coisa é a biologia (a natureza) e outra distinta é o gênero

(ambiente social em que vivemos), que diz respeito à atribuição e à re-

levância dos papéis e das tarefas que são (ou que devem ser) cumpridos

pelos homens e pelas mulheres.

Quais tarefas ficam com quem? Cuidar da casa, por exemplo, de

quem é essa tarefa? Cuidar do filho, fazer compras, trabalhar fora de casa

etc. Outro dado importante: quais tarefas são mais relevantes (as desem-

penhadas pelos homens ou as desenvolvidas pelas mulheres)?

Alice Bianchini,

expert

no tema, menciona alguns dados para se ter

uma ideia do problema: “as mulheres brasileiras recebem salário cerca

de 30% menor do que o dos homens, muitas vezes nos mesmos cargos

(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2012), enquanto, a

OIT afirma que no Brasil as mulheres deveriam receber 11% a mais que os

homens”; enquanto os homens gastam 9 horas com tarefas domésticas

por semana, o tempo da mulher nos mesmos afazeres é de 26 horas, o

que prejudica o desempenho na escola, no trabalho e, inclusive, acarreta

diminuição de tempo para o lazer. Dados da OIT dão conta de que teremos