Background Image
Previous Page  77 / 286 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 77 / 286 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 68, p. 60-79, mar. - mai. 2015

77

Estado governado por um califado como foi em grande parte o Império Islâ-

mico. Pelo que se tem notícia já há proclamada uma Capital - na cidade de

Raqqa - onde, em tese, o califado será fixado. Neste particular não vamos

aqui discutir quem teria o direito de liderar esse pretenso califado que, diga-

-se de passagem,

é

criação dos sunitas, portanto, sobrevivendo não terá

lugar para os xiitas ou outros mulçumanos de nacionalidades alinhadas.

De outro giro, em referência à questão de governo interno, pelo

que vem sendo noticiado, os líderes comandam a população

50

com o peso

da espada, com degolas mediáticas, execuções, imolações e outras práti-

cas medievais. Mantém um controle rígido de normas do islamismo tra-

dicional, com leitura extremamente radical em relação à crença em si,

assim como, no que se refere ao comportamento social das pessoas. O

estado de guerra santa (

jihad

) é constante. Execuções em massa de pes-

soas consideradas inimigas, ou mesmo aquelas que se negam a converter

ao islamismo, ou ainda, aqueles de interesse mediático são comuns no dia

a dia e servem para manter o controle social nas cidades conquistadas.

No que diz respeito à questão da

soberania,

a complexidade é de

igual monta. Considerando os tradicionais conceitos de soberania

51

, sabe-

mos que ela possui duas áreas de expressão. A primeira interna, que pode

ser sentida nas relações que o Estado mantém com seu povo através de seu

governo. A segunda externa, que pode ser sentida nas relações que o Es-

tado mantém com os demais Estados, entes da comunidade internacional.

Quanto à primeira área, inegável o seu exercício. O sistema de co-

mando possui um duplo fundamento: a )- terror e força, com a imposição

obrigatória dos princípios e normas do califado, sob pena de tortura e

morte com execuções sumárias, tribunais de bairros, etc. b)- religiosidade

estrita e radical com a conversão obrigatória de todos aos mandamentos

da religião islâmica.

Quanto à segunda área de expressão, ou seja, no âmbito externo, a

situação não deixa de ser tão complexa quanto os demais temas já abor-

dados. Se por um prisma o movimento

jihadista

pode contar com o apoio

50 Registre-se, aqui, a diferenciação doutrinária entre povo e população. O primeiro tem caráter qualitativo, ou

seja, é a massa de pessoas que possuem entre si vínculos de valores culturais, linguísticos, religiosos, sentimento

de pátria etc. População, tem caráter quantitativo. É o somatório de pessoas que vivem em determinado território,

independentemente de suas nacionalidades de seus valores sociais, religiosos, linguísticos, etc.

51 O conceito de soberania -identificada como o poder maior de uma nação inserida no contexto de um Estado

- vem se modificando cotidianamente. A internacionalização da economia e de outras forças, os efeitos da globa-

lização, e outros fatores, vem colocando em cheque o conceito tradicional de soberania forjado por Jean Bodin na

clássica

L

es

six livres de la République

(1576).