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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 76 - 87, jan - fev. 2015

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máquina do poder, este estendido pelas formas de controle da consci-

ência e dos corpos da população, em todas as relações sociais (NEGRI e

HARDT, 2012 a).

Assim, a ação policial promovida pelo estado de guerra imperial é

controlada pelo biopoder, o qual não se limita à capacidade de destruição

em massa, já que também se manifesta sob a forma de violência indi-

vidualizada, esta entendida como um elemento central da sociedade de

controle (NEGRI e HARDT, 2012 b).

Neste contexto, as costumeiras práticas policiais vistas nas manifes-

tações do Rio de Janeiro de revistas corporais, prisões para averiguação,

demora para a condução de detidos que, após entrar na viatura da polícia,

permanecem horas com algemas apertadas e sob constante ameaça, até

ser efetivamente conduzido à delegacia, além de todas as outras formas

de tortura utilizadas tanto em nome da contenção dos chamados “vânda-

los” quanto em nome da prevenção policial, podem ser descritos como “a

outra face do estado de exceção e a tendência do poder político para se

furtar ao império da lei” (NEGRI e HARDT, 2012 b: 42).

Para Negri, “a definição de guerra em termos de biopoder e segu-

rança altera toda a sua estrutura jurídica” (NEGRI e HARDT, 2012 b: 45),

ou seja, a guerra imperial tem um caráter regulador e é legitimada pelas

estruturas legais.

O processo de funcionamento das estruturas legais é entendido

a partir da ótica de uma crise do conceito de soberania e sua transfor-

mação biopolítica. Foucault nos explica que a economia política pode se

apresentar como razão governamental autolimitada, tendenciosa à na-

turalização dos objetos manipulados pela governabilidade, substituin-

do, assim, a legitimidade/ilegitimidade pelo sucesso/fracasso da ação

governamental (FOUCAULT, 2008).

Foucault descreve a governabilidade como conceito biopolítico de

soberania, transfigurado pelo conceito de governo soberano, ou seja, a “ra-

zão de Estado” é substituída pela “razão governamental”. A razão de Estado

é aquela em que o “Estado visa tão somente seu próprio crescimento, sua

riqueza, sua população, sua força” (FOUCAULT, 2008. p.61) e a razão gover-

namental é entendida como aquela que“obedece aos interesses individuais

e coletivos, a utilidade social e o benefício econômico, entre o equilíbrio de

mercado e o regime do poder público” (FOUCAULT, 2008. p. 61).