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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 76 - 87, jan - fev. 2015

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Nas ruas, a Policia Militar passa a pedir a identificação civil e cadastrar

em um documento interno da PM todos os manifestantes considerados

suspeitos, com ou sem máscaras, inclusive advogados, socorristas e mi-

diativistas, constrangendo as pessoas a responderem a um relatório que

continha perguntas como perfil pessoal do Facebook.

Vale traçar uma comparação com a Lei de Segurança Cidadã, na Es-

panha, conhecida como Lei anti15M ou Lei da Mordaça, cujo anteprojeto

foi aprovado em 29 de novembro de 2013. O novo texto permite que os

policiais peçam a documentação de todos os manifestantes que estive-

rem usando máscaras, como forma de prevenção de delitos

10

.

O conceito de Império trazido por Antonio Negri e Michael Hardt é

utilizado como metáfora com características próprias que o distingue do

conceito de Imperialismo. Este se baseava na extensão de fronteiras e de

soberania. Já o Império não pressupõe um centro territorial de poder, não

tendo fronteiras ou barreiras fixas, se apresentando como poder supremo

que governa o mundo a partir de um conglomerado de Estados-nação

para o estabelecimento de poderes supranacionais em sintonia com o

processo de globalização.

No Império, o tipo de guerra aparece tanto nos conflitos externos

como nos internos com limites indeterminados, tendo como alvo os ini-

migos abstratos produzidos por políticas de guerra contra a pobreza, con-

tra as drogas e contra o terrorismo, legitimada por discurso meramen-

te retórico que apresenta o inimigo não como indivíduo, mas como um

conceito abstrato para a mobilização de forças sociais (NEGRI e HARDT,

2012 b). Desta forma, “as invocações retóricas de guerra se materializam

e se transformam em guerra real contra inimigos indefinidos e imateriais”

(NEGRI e HARDT, 2012 b). Isto se verifica facilmente pela caracterização do

“inimigo” como “vândalo” ou o “terrorista”, materializando um esforço de

guerra criminalizador de qualquer tipo de contestação e resistência social

(NEGRI e HARDT, 2012b).

Dessa forma, a guerra domina a vida em nome de um poder soberano

com controle direto dos meios de destruição, assumindo uma forma de bio-

poder capaz de decidir diretamente sobre a morte (NEGRI e HARDT, 2012 b).

O biopoder, na análise de Foucault, é o novo paradigma de poder

da sociedade de controle surgido da transição da sociedade disciplinar

para a sociedade de controle, onde todo corpo social é absorvido pela

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http://www.diariojuridico.com/actualidad/noticias/aprobado-el-anteproyecto-de-ley-de-seguridad-ciudadana.html,