

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 516 - 525, jan - fev. 2015
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rando uma gama de empreendimentos e serviços tornados convergentes
e sinergéticos pela digitalização. Sem contar a enorme rentabilidade e as
audiências cativas com transmissões espetacularizadas de megaeventos
esportivos, musicais, religiosos, jornalísticos, etc.
Não devemos subestimar o risco de curto-circuito na soberania cul-
tural com a transnacionalização dos negócios, especialmente pela fragili-
dade de mecanismos de regulação dos fluxos audiovisuais e de capital que
cruzam fronteiras em transmissões via satélites e redes infoeletrônicas.
Em verdade, a universalização de produtos, marcas, eventos e referên-
cias culturais pode abalar a antiga supremacia de localismos e regiona-
lismos, tradições e traços comunitários específicos, transformados agora
em componentes de ampla e complexa geografia de consumo. Embora
permita maior circulação de dados, sons e imagens pelo planeta, o mundo
globalizado frequentemente desaloja a ideia original de territorialidade, e
com isso é afetada a noção de identidade associada à partilha de crenças
e sentidos comuns. A demarcação do caráter nacional de boa parte dos
conteúdos em circulação torna-se problemática, tendo em vista que os
materiais são produzidos e distribuídos por grupos transnacionais, a partir
de suas matrizes industriais.
Por mais que determinadas demandas da audiência sejam identifi-
cadas e incorporadas às programações mediáticas, são os grupos privados
que detêm o poder de determinar o que a sociedade pode ler, ouvir e ver,
que enfoques e ênfases devem ser adotadas, quais são os atores sociais
que merecem estar nas pautas informativas. A meta precípua é seguir mo-
delando comportamentos e consciências, bem como influenciando agen-
das públicas e privadas. Cabe perguntar quando, onde e de que forma a
sociedade foi chamada a opinar, fora das sondagens do mercado, sobre os
conteúdos transmitidos.
Na essência, as políticas de programação almejam a maximização
de lucros, dentro das conveniências das fontes controladoras de emissão.
Por conseguinte, a distribuição das ofertas simbólicas geralmente vincula
as diferenças socioculturais aos interesses comerciais e se inscreve mais na
órbita das exigências mercadológicas do que propriamente nas variedades
qualitativas ou em usufrutos equânimes de conhecimentos e informações.
À medida que essa configuração se cristaliza, reduz-se o campo de
manobra para um desenvolvimento equilibrado e estável dos sistemas de
comunicação e agravam-se descompassos estruturais em área estratégica