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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 516 - 525, jan - fev. 2015

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acentua a sua ilegítima pretensão de definir regras unilateralmente, inclu-

sive as de natureza deontológica, para colocar-se acima das instituições e

até dos poderes representativos eleitos pelo voto popular, exercendo não

a liberdade de expressão, e sim a liberdade de empresa.

Por fim, os grupos midiáticos detêm a propriedade dos meios de

produção, a infraestrutura tecnológica e as bases logísticas, como parte

de um sistema corporativo que rege habilmente os processos de produ-

ção material e imaterial. Segundo Raymond Williams, trata-se de “um sis-

tema central, efetivo, dominante e eficaz”, apto a definir estratégias de

largo alcance, viabilizar ações e transmitir “significados e valores que não

são meramente abstratos, mas que são organizados e vividos”.

4

Além de

planejar e coordenar atividades correlatas, o sistema corporativo exerce

papel crucial na circulação de informações, interpretações e crenças in-

dispensáveis à consolidação de consensos sociais, por mais diversificadas

que possam ser as reações e respostas. O grau de influência varia de ve-

ículo para veículo, em decorrência de recursos tecnológicos, linguagens,

metodologias produtivas, características dos mercados, padrões de inte-

ração e perfis de públicos e audiências.

Para compreender a complexidade do sistema midiático, devemos

considerar que a digitalização favoreceu a multiplicação de bens e servi-

ços de infoentretenimento; atraiu

players

internacionais para operações

em todos os continentes; intensificou transmissões e fluxos em tempo

real; instituiu outras formas de expressão, conexão, intercâmbio e socia-

bilidade, sobretudo na internet (comunidades virtuais, redes sociais); e

agravou a concentração e a oligopolização de setores complementares

(imprensa, rádio, televisão, internet, audiovisual, editorial, fonográfico,

telecomunicações, informática, publicidade, marketing, cinema, jogos

eletrônicos, celulares, redes sociais etc.). Hoje, executivos de corporações

midiáticas aludem a “multiplataformas integradas” para definir a junção

de interesses estratégicos em distintos suportes: papel, digital, áudio,

vídeo e móvel. Tudo isso sob a égide de três vetores: a tecnologia que

possibilita as sinergias; o compartilhamento e a distribuição de conteú-

dos gerados nas mesmas matrizes produtivas; e a racionalidade de gastos,

custos e investimentos.

A convergência entre mídia, telecomunicações e informática viabi-

liza o

aproveitamento

de um mesmo produto em diferentes plataformas,

4 Raymond Williams,

Cultura e materialismo

, São Paulo, Editora Unesp, 2011, p. 53.