Background Image
Previous Page  453 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 453 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 453 - 458, jan - fev. 2015

453

Fascismo no Brasil Hoje

Marcio Sotelo Felippe

Pós-graduado pela Universidade de São Paulo em

Filosofia e Teoria Geral do Direito;  foi procurador-

-geral do Estado de São Paulo de 1995 a 2000.

Os regimes fascistas em muitos aspectos  não eram diferentes de

outras experiências históricas caracterizadas pelo terror  do Estado contra

movimentos  populares, etnias, trabalhadores, sindicatos e organizações

de esquerda.  Mas o que apareceu na Alemanha e na Itália  tinha algo

específico.  No primeiro momento, ninguém se deu conta. Os soviéticos

usaram um conceito genérico. Disseram que era uma ditadura terroris-

ta  aberta dos elementos mais reacionários do grande capital.

Se fosse isso apenas não seria uma novidade. O fascismo tinha de

fato  em comum com outras ditaduras burguesas vários aspectos:  era

uma forma de dominação com métodos terroristas,  impedia o exercício

de direitos, liberdades e garantias  básicas dos indivíduos e esmagava mo-

vimentos populares e organizações de esquerda. Podemos identificar isto

tudo na Comuna de Paris, muito tempo antes. Um governo popular foi

esmagado com extrema crueldade e 20 mil

comunards

foram executados.

No entanto, dizer que Thiers era fascista pode ser um recurso retórico,

mas não um conceito rigoroso, porque esse conceito somente aparecerá,

com suas características bem específicas, no século seguinte.

Quem desvendou de fato o sentido do fascismo foi Palmiro Togliat-

ti, histórico dirigente do Partido Comunista Italiano. Ele viu que era  uma

ditadura de direita, mas  de novo tipo.  Além  do terror, buscava o con-

senso e queria capturar a consciência popular. O objetivo era transformar

a sociedade em um “organismo”. A diferença ou a tensão social seriam,

pois, “doenças”.  

Um novo tipo de dominação naquele momento era necessário por-

que surgira o poder bolchevique. Até então o socialismo era uma ameaça 

detida pela só violência. Mas comunistas tomaram o poder na Rússia  e

se consolidaram no poder. Um desafio novo exigia  respostas novas:  não