

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 442 - 452, jan - fev. 2015
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do democrático de direito, vai impondo um novo estado policial. E ai de
quem resolver protestar! Esse viés autoritário talvez seja fruto daquilo
que Carlos Fico aponta como ausência de ruptura com o período da dita-
dura militar, o que teria tornado “a transição brasileira um processo que
não terminou, uma transição inconclusa”. Segundo o professor da UFRJ,
“não surpreende que ainda estejamos às voltas com o tema”
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.
Fato é que em nome da democracia, da ordem pública, da paz e da
tranquilidade urbana, os militares deram o golpe de estado e instalaram
a ditadura. E em nome dessa mesma democracia, ordem pública e paz
urbana, os democratas estão reinventando o estado policial.
Fico com a provocação de Slavoj Zizek, que indaga: “muito se fa-
lou da violência por parte dos manifestantes. Mas o que é essa violência
quando comparada àquela necessária para sustentar o sistema capitalista
global funcionando normalmente?”
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22 FICO, Carlos.
Violência na história
: Memória, trauma e reparação. Rio de Janeiro, Ponteio, 2012.p.29
23 ZIZEK, Slavoj.
Cidades Rebeldes
: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo, Boi-
tempo. 2013. p.105.