

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 356 - 375, jan - fev. 2015
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No início de seus estudos em filosofia, tanto Marx quanto Engels
se vincularam ao pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel
9
(1770-
1831), que criou um sistema dialético idealista que foi, por muitos, consi-
derado a filosofia insuperável do século em que viveu. Naquele momento,
pode-se dizer que havia uma verdadeira cisão entre os seguidores do he-
gelianismo. De um lado estavam os conservadores (“velhos hegelianos”)
que entendiam, como aponta Tristram Hunt, que:
“se a história é o processo que supervisiona a marcha triun-
fante da razão rumo à liberdade, então toda era consecu-
tiva é necessariamente mais progressista, mais racional e
mais livre que a anterior, e todo componente dessa era
– suas artes plásticas, sua música, religião, literatura, for-
mas de governo – representa um estágio mais elevado da
razão que o precedente.”
10
De acordo com o modelo hegeliano, o Estado moderno seria a
“con-
cretização da liberdade”
; a
“concretização da razão”
– o Estado consti-
tuiria a personificação do progresso. É nesse sentido que se apoiava a
direita hegeliana. De outro lado, estava a chamada esquerda hegeliana
(os “jovens hegelianos”). Pautando-se na lógica da
“afirmação, negação e
negação da negação”
(o método dialético de Hegel), entendiam a marcha
da história no sentido de que
“cada era e sua ideia preponderante eram
negadas e assimiladas pela era seguinte”
11
. Exatamente por isso a esquer-
da hegeliana combatia o autoritarismo do Estado prussiano. Nem precisa-
mos dizer, evidentemente, que Marx e Engels fizeram parte desta última.
Um ponto que é fundamental nas personalidades de Marx e Engels
é a iconoclastia, não só pelo fato de os dois terem crescido em famílias
religiosas e, desde cedo, se declararem ateus, mas também no sentido
de não estabelecerem nenhuma relação de idolatria pelos que influen-
ciaram seu pensamento. Por esse motivo, como aparece nos primeiros
trabalhos de ambos, por mais que houvesse sim influencia hegeliana, ela
se dava sempre de forma crítica e, nesse sentido, a leitura dos trabalhos
de Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) foi fundamental. Feuerbach,
Königsberg. A vida de Marx foi marcada pela pesquisa e produção acadêmica, todavia, tais atividades sempre eram
interrompidas pela prática da militância. Marx era um proletário e participava ativamente das lutas do proletariado. So-
bre a vida de Marx, ler:
Marx – Vida e obra
, de Leandro Konder; e
O Capital de Marx:
uma biografia, de Francis Wheen.
9 Grande filósofo do idealismo alemão.
10 HUNT, Tristram.
Comunista de casaca – a vida revolucionária de Friedrich Engels
. Rio de Janeiro: Record, 2010, p. 62.
11
Ibidem,
p. 65.