

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 356 - 375, jan - fev. 2015
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trata-se de uma realidade. Isso fica claro ao lembrarmos, por exemplo,
que o mesmo marxismo que é posto de lado após a dissolução da União
Soviética (1991) ressurge com toda a força nos anos 2000.
Eric J. Hobsbawm (1917-2012) nos ensina que, por mais que o pen-
samento de Marx tenha causado certo impacto durante sua vida, e, sem
dúvida, continuava influenciando até o ano de sua morte, em 1883
“havia
pouco que justificasse sua vida”
1
. Todavia, menos de 25 anos após sua
morte, o mundo inteiro veio a reconhecer sua importante contribuição
teórica quando
“partidos políticos operários fundados em seu nome, ou
que afirmavam inspirar-se nele, recebiam de 15% a 47% dos votos em pa-
íses com eleições democráticas – sendo a Grã-Bretanha a única exceção.”
2
Um fato bastante interessante é que
“se digitarmos seu nome no Google,
ele continua a ser a maior de todas as presenças intelectuais. Só superada
por Darwin e Einstein”
3
Em todo o caso, o que justifica toda essa grandiosidade; essa figura,
por mais que em determinados momentos tenha sido “esquecida”, teima
em voltar ao âmbito das discussões acadêmicas e exercer influência em
partidos políticos, movimentos revolucionários e sociais? Qual é o funda-
mento disso? O pensamento de Marx é atual?
O início do século XXI foi, obviamente, um período marcado por
crises político-econômicas mundiais, guerras, conflitos armados, atenta-
dos terroristas e, por mais que Francis Fukuyama (1952- ) tenha insisti-
do em apontar para o capitalismo como o
fim da história
, a história não
parece tão pacificamente “finalizada” assim. É importante lembrar que,
do mesmo modo que esse início de século tem sido permeado por dúvi-
das com relação ao futuro do mundo, por um sempre crescente medo de
uma catástrofe ambiental e crises econômicas por toda a parte do globo
(até mesmo onde o senso comum midiático julgava que fosse impossível),
existe um ponto que, não bastasse estar completamente fora do deba-
te da grande mídia, continua se agravando exponencialmente ao longo
dos anos: o encarceramento de massa, ou, nas palavras de Alessandro De
Giorgi,
a miséria governada através do sistema penal
.
No caso de nosso país, ao mesmo tempo em que a grande mídia e
os três poderes se recusam a discutir a questão criminal, o senso comum
1 HOBSBAWM, Eric J.
Comomudar omundo –Marx e omarxismo, 1840-2011.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 13.
2
Ibidem
, p. 14.
3
Ibidem,
p. 15.