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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 356 - 375, jan - fev. 2015

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Como bem apontou Hobsbawm, é fundamental que sejam feitas as

mesmas perguntas que foram feitas por Marx e Engels, por mais que mui-

to críticos questionem hoje as respostas dadas por eles. Só desse modo é

possível atacar as premissas de tal sociedade e, por conseguinte, propor

uma solução para tais problemas.

No que tange ao estudo da criminologia, o foco que estabelecemos

para viabilizar esse artigo encontra-se no desenvolvimento da criminolo-

gia crítica e sua relação com o pensamento marxista. Se optássemos por

falar de todas as outras escolas que também ocuparam um papel impor-

tante na história do pensamento criminológico, impossibilitaríamos uma

análise mais aprofundada de nosso tema. De qualquer modo, nosso intui-

to aqui não é encerrar as inúmeras discussões que surgem da crítica ao

direito penal, e sim problematizá-las; apontá-las; propor uma reflexão que

é fundamental para a evolução do pensamento. É o mínimo que podemos

fazer para honrar a memória e o instrumental teórico deixados pelo Mou-

ro e pelo General

7

I – A CRÍTICA MARXIANA DO DIREITO: O “MOURO” E O “GENERAL”

CONTRA O DIREITO MODERNO BURGUÊS

Uma das características mais evidentes do capitalismo é sua capa-

cidade de dar um novo significado às diversas instituições e relações, de

modo que, para o senso comum, aparentemente elas sempre tenham

existido e sempre tenham seguido a mesma forma. Um exemplo claro

disso é o Direito. Para a grande maioria das pessoas, a pena de prisão, por

exemplo, sempre existiu, teve a mesma forma e continuará existindo. Por

esse motivo, é crucial o estudo da história, para compreendermos como

se dá o processo de formação das sociedades capitalistas e, evidentemen-

te, como era anteriormente. A vida de Marx foi extremamente difícil, pas-

sando por diversos problemas de saúde, financeiros e, como não poderia

deixar de ser, perseguições políticas eram uma realidade em sua vida. Foi

expulso de diversos países, devido às suas críticas à sociedade burguesa

(sempre ácidas, certeiras e fortíssimas) nos jornais dos quais participou e

por sua militância política

8

.

7 “Mouro” era o apelido dado à Marx pelo fato de sua pele possuir uma tonalidade bastante escura. “General” era o

apelido de Engels, dado em razão de sua seriedade, disciplina, postura e pelo fato de ter o costume de vestir casacas.

8 É sempre importante lembrar, pois muitos parecem esquecer (propositalmente ou não) que, quando falamos de

Marx, não estamos falando de um intelectual como Kant, que passou a sua vida dando aulas e escrevendo na pacata