

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015
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vimento e à existência do que chamou de “dois Brasis”, sendo um deles o
da exclusão social, das oligarquias latifundiárias, do caciquismo violento,
das elites políticas restritas e racistas, origem dos tempos da colônia que
tem se reproduzido de forma mutante até os dias de hoje.
Acresce ainda que as políticas de inclusão social iniciadas com Lula
a partir de 2003 e que levaram a uma significativa redução da pobreza
foram desaceleradas no governo Dilma, bem como teria ocorrido a des-
mobilização de pautas de participação democrática, tendo sido cooptadas
ou neutralizadas no domínio das grandes infraestruturas e megaprojetos.
Para Boaventura de Sousa Santos, as políticas de inclusão social teriam se
esgotado, deixando de corresponder às expectativas de quem se sentia me-
recedor de mais e melhor.
Outros críticos também responsabilizam especificamente o gover-
no federal. Giuseppe Cocco, ferrenho crítico do PT e das esquerdas tradi-
cionais, afirma que as brechas de transformação dos governos Lula foram
definitivamente fechadas por Dilma; que as experimentações em termos
de orçamento participativo não apenas foram encerradas como foram to-
talmente sobrevalorizadas. O OP (Orçamento Participativo) não teria dei-
xado rastros políticos de nenhum tipo.
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Embora não sejam poucos os atores a responsabilizar o governo e
os partidos de esquerda ou como alvo ou como motivadores dos protestos
no Brasil, é intrigante que passados seis meses dos principais protestos, a
presidenta Dilma Rousseff siga líder em intenções de voto para as eleições
presidenciais, somando 47% e 60% dos votos válidos, o suficiente para ven-
cer no primeiro turno (Pesquisa
DataFolha
- fev/2014). O mais surpreen-
dente é que o aumento indica que o típico eleitor brasileiro simpatizante de
Dilma tem entre 25 e 34 anos, possui ensino médio e renda familiar mensal
baixa, cerca de R$ 1.448, ou seja, os jovens pobres do Brasil.
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Uma leitura interessante para explicar as manifestações está basea-
da no perfil dos participantes, na questão geracional e no
modus operandi
dos protestos associa os motivos como aqueles forjados pelas novas es-
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Às vezes parece que aos críticos que centram seu alvo no governo e no PT falta recordar que o país adota o
modelo do presidencialismo de coalizão (termo cunhado por Sergio Abranches), aplicado desde a redemocrati-
zação e
que se assenta em dois pilares: o papel do presidente e a existência de coalizões partidárias de sustentação
ao governo. Os partidos da coalizão participam do governo quase que de forma semiparlamentarista e, ao mesmo
tempo, oferecendo a maioria de que dispõem no Congresso para apoiar a agenda do presidente. Na prática, trata-
-se da única forma de governabilidade ao presidente e assegurar a aprovação das principais propostas diante do
Congresso Nacional, evitando que a oposição paralise politicamente inviabilizando o governo.
26 ver
http://oglobo.globo.com/pais/dilma-tem-simpatia-dos-eleitores-menos-escolarizados-11764800#ixzz2upNsGYqs.