

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015
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emprego das Forças Armadas emOperações de Garantia da Lei e da Ordem.
Embora o Ministro Celso Amorim tenha negado que o objetivo seja este, a
publicação visa claramente estabelecer as regras para permitir a contenção
das manifestações que possam ameaçar a realização da Copa do Mundo e
abre a porta para a atuação das Forças Armadas com ampla capacidade de
deliberar sobre as manifestações e agir reprimindo os protestos.
Parece inacreditável que o Brasil, 50 anos após o golpe militar de
1964, com atos de “descomemoração” do Golpe por todo o país, ano em
que a sociedade brasileira vivencia um rico debate público sobre seu pas-
sado e busca pela verdade, um verdadeiro manual para ação das Forças
Armadas venha a ser aprovado pelo Ministério do Estado da Defesa, in-
cumbido de exercer a direção superior das Forças Armadas e apoiado pela
Presidenta Dilma, Comandante-em-chefe das Forças Armadas.
Para finalizar, vale uma breve referência ao protagonismo da mídia
durante a cobertura das manifestações. Os principais meios de comunica-
ção tentaram servir como intérpretes dos acontecimentos e poucas vezes
obtiveram êxito. A maior parte do tempo, confusos com fatos isolados e
incapazes de separar a interpretação jornalística da partidarização e pre-
ferência de edição, produziu desinformação e contrainformação que in-
terferiram no andamento das próprias manifestações.
Ao mesmo tempo em que manteve um discurso pro liberdade de
expressão e de apoio aos protestos, ajudou no trabalho de criminalização
de manifestantes, aliando-se aos discursos mais repressivos. Não cabe
aqui um debate mais apurado a respeito do papel da mídia brasileira du-
rante as manifestações, mas vale destacar que esta cumpriu uma posição
protagonista, ainda que injustamente e, não poucas vezes, prestou-se ao
triste papel de transformar reivindicação por direitos em jogo de interes-
ses de seus próprios militantes e convertidos.
III. A disputa para explicar as razões dos protestos no Brasil
A principal inquietude de intelectuais atentos aos movimentos de
protesto em outras regiões do mundo é que, no Brasil, assim como na
Turquia, com as manifestações na Praça Taksim, o país vive uma situação
econômica próspera e é dotado de estrutura institucional estável e já ex-
perimentada desde o restabelecimento da democracia.