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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015

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Slavoj Žižek é um dos pensadores que está no front da interpreta-

ção do mundo atual tentando identificar sentidos comuns nos protestos

ocorridos nos movimentos Occupy Wall Street, Primavera Árabe, os In-

dignados da Espanha e também no Brasil. O autor considera que com-

preender as manifestações não é apenas uma luta epistemológica, com

jornalistas e teóricos tentando explicar o real conteúdo, mas também uma

luta ontológica que desafia deslindar o que vem acontecendo dentro do

protesto, qual a combinação de problemas, quais as respostas que serão

a chave para compreender o potencial de questionamento e de transfor-

mação desses movimentos.

Para entendê-los, é preciso distinguir o que neles é proposta e o

que é prática de protesto e de ação política e essa distinção revelará, no

mais das vezes, também os protagonistas das ruas e as tensões e contra-

dições de atuação e de discurso.

No Brasil não há consenso a respeito dos reais motivos dos pro-

testos. Como visto, a voz das ruas é plural e inclui elementos e discursos

progressistas e conservadores, reivindicação por direitos de liberdade e

direitos sociais, políticas públicas, mas também pautas regressivas e rea-

cionárias presentes na dinâmica da própria sociedade brasileira.

Para alguns, as manifestações são revoltas de quem está emprega-

do, mas vivendo em condições duras e precárias de trabalho, salários bai-

xos e sem perspectiva de futuro, manifestando dessa forma a frustração

social (essa é a análise do sociólogo Ruy Braga no livro Cidades Rebeldes).

Para outros, é o fenômeno da chamada “nova classe média”, que

reivindica por serviços de qualidade, saúde, transporte, educação, mas,

como alerta Marcio Pochmann, o próprio termo “nova classe média” teria

esse condão mercantil para a classe trabalhadora que experimenta um

aumento de renda e direcionar a setores de serviço privado que, como

consequência, tende a desvalorizar o espaço e os serviços públicos (livro

A nova classe média?

Editora Boitempo, 2012).

Em outra leitura sobre a chamada classe média, Francis Fukuyama,

em artigo intitulado "A Revolução da Classe Média" (publicado no

The Wall

Street Journal

), afirma que este é um fenômeno que ocorre também na Tur-

quia, nos países da Primavera Árabe e até na China, em que os protestos não

foram liderados pelos pobres, mas por uma juventude com “nível educacio-

nal acima da média”. “Eles sabem usar tecnologia e as mídias sociais como

o Facebook e Twitter para espalhar informação e organizar manifestações”.