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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015

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uma organização, mas utilizam uma tática, ummeio de agir nos protestos.

Não fazem reuniões, mas se reúnem em local e hora predeterminado para

planejar as ações, não têm liderança, nem eles mesmo sabem quantas

pessoas a utilizam e admitem que podem haver infiltrados.

Questionados sobre quais seriam as reivindicações, esclarecem que

a

Black Bloc

tem uma ideologia, mas que os manifestantes que usam a

tática normalmente concordam e se somam às reivindicações do protes-

to, inclusive defendendo manifestantes.

Sobre a violência, dizem que

a

tática não é atacar, mas somente se defender. Segundo um integrante, “A

polícia atira com bala de borracha, a polícia tem escudo, tem proteção, a

polícia tem bomba de gás, a polícia tem bomba de efeito moral e a única

coisa que a gente tem para se defender são madeiras, paus e pedras. Na

verdade, a gente tem que responder à altura. Não diga que a gente é

agressivo, nós respondemos simplesmente à altura que a polícia ataca,

mas lixo na rua faz parte da tática

Black Bloc

, que atrasa a movimentação

da tropa”.

24

Eles também se queixam de não serem ouvidos e de sofrerem

a violência cotidiana contra a qual caberia o uso da desobediência civil.

A presença dos

Black Blocs

nos protestos é apontada como uma das

principais causas desmobilizadoras das manifestações e, a partir de julho,

o repúdio à violência é bandeira defendida também pelo movimento sin-

dical, pela Central Única dos Trabalhadores – CUT, por partidos e manifes-

tantes com pautas específicas que se queixam da violência. Pesquisas de

novembro de 2013 indicam que 81,7% da população apoiam os protestos

que ocorreram desde junho, mas 93,4% não concordam com a ação dos

grupos que adotam a violência como estratégia (pesquisa da Confedera-

ção Nacional do Transporte e do Instituto MDA Pesquisa – nov/2013).

O fenômeno

Black Bloc

provocou como contrapartida a resposta

policial mais repressiva, deixando evidente que a instituição ainda perma-

nece atadas aos métodos autoritários dos tempos ditatoriais, revelando

as “permanências autoritárias” dentro das forças de segurança pública,

em especial a polícia militar.

Com a repressão às manifestações, a crítica aos abusos policiais

passa a ser outra pauta transversal: críticas ao aumento da violência e

perseguição aos manifestantes, a criminalização dos movimentos, e a ca-

pacidade de produzir estrutura normativa de repressão com a conivência

dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo.

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http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/10/integrante-do-black-bloc-admite-que-movimento-ficou-fora-

de-controle.html.