Background Image
Previous Page  172 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 172 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015

172

Há um sentido de entender que a luta com a centralidade do traba-

lho, feita por sindicatos e partidos de esquerda, tentará manter o controle

sobre os manifestantes e o tipo de luta de engajamento que, pelas ca-

racterísticas já mencionadas, não se coaduna aos modelos hierárquicos e

de conquistas graduais e históricas dos partidos tradicionais. Os protestos

multidimensionais repudiam o conceito carismático de liderança e, como

tal, também tendem a subverter as bases sindicais e partidárias.

No Brasil não foi diferente. O cientista político Giuseppe Cocco, um

dos intelectuais que é contundente crítico do Partido dos Trabalhadores e

do governo, responde as acusações vindas de setores da esquerda parti-

dária de que aos movimentos de junho lhes faltaria organicidade, lideran-

ças e ‘projeto’. Cocco devolve a pergunta/acusação indagando qual seria a

organicidade e os projetos desses partidos. Para ele, que defende a força

dos protestos, é justamente na falta de organização formal e na multiplici-

dade das singularidades que jaz a força das manifestações, “sem lideran-

ças e, por isso, mais potentes”.

21

Giuseppe Cocco questiona o papel atualmente assumido pelos par-

tidos tradicionais, que “parecem funcionar como coalizões espúrias de es-

tratégias personalistas, grupos de interesse econômico que formam ban-

cadas bem pouco ‘republicanas’ a partir do peso de determinados lobbies

(agronegócio, telecomunicações, evangélicos, etc.) que passam por cima

das próprias instâncias partidárias”.

O caso brasileiro reúne um componente atípico que é o fato de o

partido da Presidenta Dilma Rousseff ser um partido de esquerda, o Par-

tido dos Trabalhadores, fundado em 1980 e que representa um dos maio-

res movimento partidários de esquerda das Américas, possui mais de um

milhão e meio de filiados e é o segundo maior partido do país.

Os protestos e a transformação das narrativas e pautas nas sucessi-

vas manifestações de rua, críticas aos políticos de modo generalizado, en-

contram aí um ponto de ambiguidade, pois Dilma é também a sucessora

de Lula, das conquistas sociais mais importantes da história do país e que

impulsiona um modelo exitoso economicamente, prodigioso do ponto de

vista do desenvolvimento com transferência de renda e diminuição da po-

breza. Outro dado significativo é que hoje (05 de fevereiro de 2014) as

pesquisas indicam que Dilma seria reeleita com 60% dos votos válidos, ou

21 Entrevista concedida à

Revista do Instituto Humanitas da UNISINOS

.

http://www.ihuonline.unisinos.br/index.

php?option=com_content&view=article&id=5308&secao=434.