

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015
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Como em outros protestos pelo mundo, os que participaram das
manifestações do Brasil também não forjaram líderes ou guias, aparen-
temente rejeitando a figura carismática da liderança. Esse costuma ser
mais um traço distintivo dos protestos e consequência da lógica segun-
do a qual, ao procurar uma nova racionalidade política, rompem-se as
concepções carismáticas e tecnocráticas tanto de organização como de
transformação da sociedade.
Daí, como destaca Martins, são grandes as perplexidades que o pro-
testo provoca, já que não se enquadra em nenhum dos esquemas ideoló-
gicos convencionais: “O fato de serem considerados ou classificados como
marxistas, leninistas, anarquistas, surrealistas, serve apenas para revelar
e encobrir a própria novidade de que são portadores, eles já são
trans
tudo isso. Transcendem tanto na formulação como na práxis os esquemas
convencionais de referência política, superando qualquer enfoque que,
reduzindo-o a isso, o queira definir ou analisar. Sob esses aspectos, o pro-
testo parece constituir um fenômeno histórico extremamente interessan-
te.” (Duas manifestações Intransitivas, editora Argumento, 2004, p. 152).
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II. Multitude de protagonistas: juventude, partidos, sindi-
catos, associações, grupos religiosos,
black blocs
, traba-
lhadores, mídia, governo e mais
O perfil dos manifestantes das Jornadas de Junho revelou que 52%
são estudantes, 43% têm ensino superior completo, 43% têm menos de
24 anos, 46% nunca tinham participado de manifestações, 83% não se
sentem representados por qualquer partido político, 96% não são filia-
dos a partido político, 49% tinham renda familiar superior a cinco salários
mínimos – o equivalente a R$ 3.390, 66% acreditam que depredações de
bens públicos e privados são injustificáveis, 94% acreditam que suas rei-
vindicações serão atendidas.
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Naquilo que diz respeito à participação dos jovens, entra em cena
outro elemento comum aos protestos: o protagonismo da juventude
17 O PSOL, partido que apoiou e participou amplamente das manifestações, quando questionado sobre relações as
relações com os black blocs, respondeu que nenhuma, que historicamente a relação entre socialistas e anarquistas
é tumultuada e distante e que o PSOL nunca concordou com os métodos de luta deles, nem nunca estabeleceu
relações orgânicas e nem de parceria.
18 Pesquisa IBOBE em 24 de junho de 2013.