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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015

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como sujeito privilegiado das manifestações. O privilégio não é necessa-

riamente econômico de produção ou faixa de renda, mas de inserção a

um sistema de conhecimento estratégico, um poder operacional que, nos

tempos atuais, revela-se particularmente importante também no domí-

nio da Internet (questão geracional).

19

Ao mesmo tempo, como alerta Martins, o estudante, enquanto “tipo

ideal”, está momentaneamente separado do sistema burocrático-produtivo,

embora dele oriundo e, como privilegiado, é também dotado das condições

críticas para julgá-lo, estando livre das responsabilidades na construção e ad-

ministração da sociedade herdada e também livre dos mecanismos de que

ela dispõe para neutralizar ou confundir os impulsos voltados para a sua

negação. Por isso, o jovem está propenso a exercer a negação de forma

muito mais radical que outros protagonistas.

A contradição da posição da juventude reside em que essa liberda-

de tem um prazo biológico fatal, transitório, por ser estudante jovem até

que passe a fazer parte das engrenagens da sociedade. Ao mesmo tempo,

e seguindo a ambiguidade antes mencionadas quanto aos limites do al-

cance transformador do protesto, se ser jovem e estudante faz com que

se detenha o privilégio do conhecimento nos dias de hoje, é verdade que

estes ainda não detêm o controle dos meios políticos indispensáveis para

a transformação da sociedade.

Outros protagonistas tendem a se incorporar nos protestos e, no

caso brasileiro, isto ocorreu de forma secundária. Os sindicatos e partidos

quando atuam nas manifestações funcionam como fatores e agentes de

integração dos clamores ao sistema e à lógica partidária ou sindical, bus-

cando adaptar pautas de reivindicação. Nesse sentido, observa Martins

que comumente ocorre uma distância entre o comportamento de protes-

to por direitos (agenda progressista) e o comportamento tradicional das

esquerdas, causando discordância inevitável.

20

19 A questão geracional precisa ser considerada. Os protestos reunem a Geração Y e a Geração Z. A Geração Y,

também chamada de geração do milênio ou geração da Internet, conceito que em sociologia se refere aos nascidos

após 1980 até meados da década de 90, desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos e prosperi-

dade econômica e acostumadas a utilizar aparelhos de alta tecnologia, como telefones celulares de última geração.

Já a Geração Z, chamados de nativos digitais, é a definição sociológica para a geração de pessoas nascidas no final

da década de 90 até o ano de 2010, indivíduos totalmente familiarizados com as últimas tecnologias digitais e não

encontrariam dificuldade alguma em aprender a lidar com as novidades que aparecem praticamente todos os dias

nesse mercado, diferentemente dos membros das gerações que os antecedem. O “Z” vem de “zapear”, “Zap”, do

inglês, significa “fazer algo muito rapidamente” e também “energia” ou” entusiasmo”. São tempos em que os jovens

superam os pais em tecnologia, sabem “mais” que os adultos.

20 Segundo Martins, em Maio de 68 o distanciamento entre a esquerda do protesto e a esquerda oficial foi inevitá-

vel. Para a esquerda, o comportamento dos manifestantes era provocativo, inconcebível e estranho aos esquemas

de referência política.

Op. cit.

, p. 150.