

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015
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A complexidade das temáticas crescia a cada nova (oportunidade
de) manifestação, incluindo algumas pautas regressivas ou reacionárias
sobre direitos humanos, como as manifestações de setores de médicos
contra a Medica Provisória 621/2013, que cria o Programa Mais Médicos
para o Brasil.
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Ou a manifestação “contra a ditadura comunista” e pela
volta dos militares ao poder, que reuniu menos de 100 pessoas na Aveni-
da Paulista em 10 de junho de 2013. O ato foi organizado por entidades
com inclinação nacionalista como Pátria Minha, União de Combate à Cor-
rupção (UCC), Organização de Combate à Corrupção (OCC) e Mexeu com
o Brasil Mexeu Comigo e contou com integrantes de grupos de extrema
direita como Resistência Nacionalista, Frente Integralista Brasileira e Ca-
recas do ABC.
Vale recordar ainda a reedição da “Marcha da Família com Deus,
pela Liberdade”, realizada em 22 de junho em Brasília, movimento origi-
nalmente criado pelos setores conservadores da Igreja respaldando civil-
mente o Golpe Militar e a ditadura. Com o Golpe Militar, a classe média
aderiu à marcha estimulada pela igreja e pela mídia com o argumento
de que o comunismo seria implantado pelo Governo João Goulart. Em
2013, foi convocada a reedição pelas redes sociais e recebeu o apoio de
lideranças evangélicas, espírita e por figuras emblemáticas da mídia e da
política atual, com a então apresentadora do SBT Rachel Sheherazade, o
Deputado Pastor Marcos Feliciano e o pastor Silas Malafaia.
Das ruas também ecoavam críticas sobre o modelo de desenvolvi-
mento acelerado adotado pelo Brasil nos últimos anos, o preço da visibi-
lidade internacional do país, os efeitos das metas e obras do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC),
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os custos para as cidades e a dis-
1988, e substituir a legislação vigente — o Código Brasileiro de Telecomunicações, que é de 1962. Alertam, entre
outras razões, que grupos como mulheres, trabalhadores, negros, sertanejos, índios, camponeses, gays, lésbicas e
tantos outros foram seguem sendo invisibilizados pela mídia nestas cinco décadas.
15 O Programa lançado em 8 de julho de 2013 pelo governo federal para suprir a carência de médicos nos muni-
cípios do interior e nas periferias das grandes cidades, tem como meta 15 mil médicos para as áreas onde faltam
profissionais, contemplando mais de 50 milhões de pessoas. A vinda de médicos de outros países, especialmente de
Cuba, foi alvo de duras críticas de associações representativas da categoria, sociedade civil, estudantes da área da
saúde e inclusive do Ministério Público do Trabalho. Ver
www.saude.gov.br/maismedicos.16 Programa de Aceleração do Crescimento (mais conhecido como PAC) lançado em 28 de janeiro de 2007 pelo governo
federal engloba um conjunto de políticas econômicas com investimentos totais de R$ 503,9 bilhões até 2010, sendo
prioridade a infraestrutura, saneamento, habitação, transporte, energia e recursos hídricos. O PAC II, iniciado em 2011, já
conta com mais de 82% das obras concluídas, contou com mais de 30 mil empreendimentos, e contribui para a geração
de empregos em todo o Brasil, acarretando na menor taxa de desocupação em toda a série histórica: 4,3%, em dezembro
de 2013, conforme apurou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Partidos de esquerda, como o PSOL,
criticam o PAC dizendo que os elementos fundantes do atual modelo econômico brasileiro, neoliberal, vão prosseguir.
Apontam contradição entre as intenções de uma aceleração do crescimento e uma estrutura que não é tocada pelas
estruturas do PAC, que produz a estagnação ou o baixíssimo crescimento em relação às potencialidades brasileiras.