

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015
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movimentos de protesto, destacando a inerente natureza premonitória
que vai mais além da capacidade de transformação imediata. Mesmo tra-
tando-se do movimento Maio de 68, e sabendo que compará-lo aos pro-
testos no Brasil de hoje seria absolutamente inadequado, o autor apre-
senta elementos de caráter geral que podem servir para a reflexão sobre
as manifestações que aconteceram no Brasil em 2013.
Afirma, por exemplo, que os protestos guardam em si diferentes
tempos históricos, sendo efêmeros ao mesmo tempo em que são capazes
de indicar tendências para além do aqui e agora, assinalando tempos de
transformação.
Inquietam justamente por essa ambiguidade dramática de apon-
tarem para situações de horizonte que nem sempre são compreendidas,
pois encerram novos conteúdos sociais e formas de comportamento iné-
ditas. São ao mesmo tempo prematuros e atuais, contêm proposições
utópicas e não conseguem converter-se propriamente numa estratégia
política (MARTINS, L.,
Op. cit.
, p.126).
Os protestos partem de inconformismos e do estranhamento dos
que se rebelam em relação à sociedade, e, como tal, têm o potencial de
desnudar problemáticas desta mesma sociedade e de visibilizar as fissuras
e contradições que vão mais além das causas deflagradoras. Por vezes,
como emMaio de 68, as manifestações são capazes de apontar para novas
e paradigmáticas realidades sociais e denotar causas políticas e econômi-
cas capazes de conduzir a uma dinâmica de transformação mais adiante.
O inconformismo presente nos protestos não é meramente reativo,
mas crítico e propositivo, embora com limitada capacidade de transforma-
ção. Conforme ressalta Martins, é dessa ambiguidade que o protesto extrai
a força maior, a grande capacidade propositiva; porém, essa é também sua
principal limitação: a reduzida capacidade imediata de transformação.
No Brasil, as manifestações não são exceção à regra da ambiguida-
de, assim como também possuem a característica multidimensional que é
comum a esse tipo de movimento e que agrava ainda mais a ambiguida-
de inerente: a multiplicidade de alvos simultaneamente questionados e a
(baixa) profundidade da crítica pelo protesto (característica horizontal e
vertical presente nesses movimentos).
Os manifestantes, para além das pautas deflagradoras relacionadas
com a questão específica do reajuste de tarifas do transporte público, pas-
saram a multiplicar os focos de crítica.