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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 66, p. 114 - 137, set - dez. 2014

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Estava-se na época da ´

guerra fria´

, com ´

uma aliança de setores mi-

litares e industriais para a qual a iminência da guerra era condição de

desenvolvimento´

16

.

.

Havia gastos bilionários com armamentos por parte

dos dois blocos antagônicos (Estados Unidos e União Soviética), sendo

fundamental para ambos a militarização das relações internacionais e

também em nível interno. Com o suporte ideológico da doutrina de se-

gurança nacional, criou-se a figura do inimigo interno – que transbordou

os limites da guerra fria, perdurando até hoje -, antes os criminosos po-

líticos, depois os comuns. Por outro lado, a década de 60 era a década

dos movimentos de contracultura, como os ´

hippies

´; dos movimentos de

protesto político, como as guerrilhas na América Latina. Especialmente,

era o momento do estouro da droga, aumentando o consumo da maco-

nha também entre jovens de classe média e alta, e estourava também a

indústria farmacêutica, que criou drogas sintéticas, como o LSD. Como o

consumo já não era apenas dos guetos, passou a se mostrar um problema

moral, uma ´

luta entre o bem e o mal

´. O mal, representado pelo pequeno

distribuidor, vindo dos guetos, que incitaria o consumo, qualificado como

delinquente. O bem, pelo consumidor, ´

filho de boa família´

, corrompido

pelos traficantes, qualificado como doente/dependente, merecendo tra-

tamento por médicos, psicólogos e assistentes sociais.”

17

A política norte

americana, camuflando os verdadeiros desígnios intervencionistas, não

podia aceitar que tantos jovens americanos fossem desprovidos de vir-

tude, passando a questão do consumo de substâncias psicoativas para

ordem internacional, sob o argumento de segurança nacional.

18

“Assim, os

EUA colocaram em marcha uma prática efetiva de intervenções diplomá-

tico-militares 

19

, transferindo para os países marginais a responsabilidade

pelo consumo interno, com a teoria de países-vítimas e países-agressores.

Deste lado, os países produtores, como Colômbia, Bolívia e China. Do lado

das vítimas, Estados Unidos e os países da Europa Ocidental. Ou seja, ´a

criminalização do estrangeiro aplaca a vitimização doméstica´ 

20

. Foi dado

o passo para transnacionalizar o controle, com a globalização da repres-

16 BATISTA, Nilo. Ob. cit., p. 138.

17 SILVA, Antônio Fernando de Lima Moreira da. "Histórico das drogas na legislação brasileira e nas convenções

internacionais". Ob. cit.

18 ZACCONE, Orlando. Ob. cit., p. 88/89.

19 SILVA, Antônio Fernando de Lima Moreira da. "Histórico das drogas na legislação brasileira e nas convenções

internacionais". Ob. cit. Fazendo referências à Tiago Rodrigues.

20 SILVA, Antônio Fernando de Lima Moreira da. "Histórico das drogas na legislação brasileira e nas convenções

internacionais". Ob. cit. Fazendo referências à Salo de Carvalho.